17 novembro 2009

E TU QUE NÃO CHEGAS COM O FRIO

As noites, que de repente, já são frias fazem-me acordar sem ti no meu corpo, mas contigo na minha memória. De repente saíste do meu corpo, como se já não quisesses partilhar comigo os segredos que a vida nos deu. Agora só te tenho na memória. Naqueles sítios que sabemos serem só nossos, mesmo quando me recusas vezes sem conta e não me dás os teus braços e onde me finjo acolher em ternuras que sabemos nunca terem sido minhas. Esta noite não vieste. Tal como não tens vindo desde quase sempre. E hoje, quando me deparei com a chuva, o frio, o nevoeiro que não me deixava ver a nesga do rio lá à frente, senti-me ainda mais impotente e cansada de fingir que estavas aqui e que estávamos bem e felizes. Não estás. Não estamos. Abandonámos os nossos sítios e esquecemos as nossas músicas. Fingimos que seguimos em frente mas deambulamos nos caminhos que nos levam a abraços onde podemos fingir ainda mais. Fecho os olhos e é nesses braços que faço de conta que reencontro os teus, de novo. Lá, depois daquela curva onde nos encontrávamos ao final do dia e por onde seguíamos de mãos dadas. Agora a minha mão fica perdida nos bolsos a fingir que procura qualquer coisa e agarra, sofrêga qualquer objecto insignificante, para se manter ocupada, ao passo que a minha boca, agora seca de ti, faz de conta que debita palavras imaginárias para se manter atarefada perante a falta brutal que a tua boca lhe faz. Sinto-me sem ti. Sabes o que é isso? É apenas sem ti. Eu sei. E tu também sabes.
Setúbal, 17 de Novembro de 2009

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