31 outubro 2006


Encerrei um capítulo da minha vida. Ou tenho vindo a encerrá-lo lentamente para não doer tanto. Mas tenho vindo a fechar esse capítulo. E agarrando nas palavras de um amigo, estou quase, quase, com o livro na prateleira…A vida é feita de livros. Nalgumas fases não passo de uma leitora mais ou menos atenta, mas quase não participo nas estórias da minha vida. Agora não quero ser um simples leitor, quero ser a personagem principal e viver avidamente cada página, não apenas lê-las, como se estivessem a retratar a vida de outra pessoa. Vivendo comigo na 3ª pessoa. Agora quero ouvir os verbos conjugados em Eu, e deixar o Ela para trás. Eu estou aqui.

29.10.2006

Hoje… hoje estou triste, mas não posso dizer que é por causa do dia, porque ele está enevoado, ou porque ele está chuvoso, está até um dia lindo dia de sol, cheio de luz, e com um céu maravilhoso… Mas eu estou triste na mesma, hoje é um dia de despedidas, hoje é um dia de empacotar lembranças, desembaraçar-me do que já não faz falta, e escolher as lembranças físicas que quero manter presentes na minha vida. E estes dias são sempre tristes, deter o poder de escolher, de dizer tu ficas e tu vais.
Hoje não é um dia como os outros, mas mais ninguém vê a tristeza que vai no meu coração, apenas eu, porque continuo a sorrir, e continuo a falar, como se fosse um autómato, para que ninguém fique ferido com a minha dor.
Hoje não respiro bem, não param de me rolar as lágrimas secas, que apenas o meu coração vê. Hoje é um dia definitivamente triste.
E eu, tenho que terminar de viver o dia de hoje, para ao chegar ao fim, ter a impressão de que realmente fiz um bom trabalho, e ao fechar a gaveta das minhas lembranças, agora já limpa, ficar com a ténue sensação de que fiz o melhor que pude.
18.01.2006

30 outubro 2006


Hoje tive a perfeita consciência do quanto estou bem sem ti. Não te senti a falta na cama. Não senti falta do teu calor. Da tua presença fria e indistinta. Não me fez falta as tuas palavras inaudíveis pela manhã e os teus arremessos durante a noite. Estou só. Mas estou bem. E acima de tudo tranquila. Sabes o que significa a tranquilidade para mim agora? Estar sem ti apenas… E estou bem. Não me falta o ar. Não me falta o chão. Não deixei de respirar por estar sozinha. Estou bem. Vou sobreviver. Outra coisa não se esperaria.
Tu não sabes. Mas eu sou apenas uma sobrevivente. Porque sei, que embora tenha um mar de sofrimento para atravessar, sei, sinto, com todas as forças, músculos e fibras do meu corpo que um dia ele vai terminar e que depois abrir-se-á um novo mundo. Porque diz o ditado que não existe mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. E eu sei disso. Toda a vida tem sido assim. E a minha vida não passa de um ciclo. O meu ciclo. Do qual tu fizeste parte. E deixarás de fazer. Pelo menos em parte. E eu vou continuar a viver. Sempre a viver. Até que um dia vou morrer. Mas não vou morrer por falta da tua presença. Não vou morrer pela solidão causada pela tua ausência na minha vida. Porque embora estejamos juntos, há muito que nos abandonamos no pensamento. E esse, meu caro, é simplesmente o mais importante.

7.10.2006

Hoje está um dia de chuva, de chuva encolhida, de chuva frustrada.
Hoje o tempo está como eu… triste, enevoado, mas sem chover. Apenas porque as nuvens querem guardar aquela chuva para outro dia, para outras épocas de monção.
Hoje sinto que não sou capaz de enfrentar nada, de ficar quieta, de dormir ou de ficar acordada.
Hoje não sou capaz de enfrentar os meus demónios e também não sou capaz de te falar.
Hoje é um dia como outro qualquer, é um dia após o outro, é um dia que chega, e que vai, que termina, naquela hora do fim do dia, em que o sol se deita no horizonte, em que os cansaços chegam e tomam conta de nós, e nós olhamos para trás, naquela angústia de descobrir se fizemos alguma coisa que realmente fará o mundo girar ao contrário.
Mas quase todos os dias chego à suave ou triste, ou magoada ou zangada sensação de não ter feito quase nada que pudesse fazer um mundo melhor, que pudesse fazer do meu mundo, pelo menos, um lugar mais feliz.
E hoje, quando chegar a essa hora, em que o sol se deita e se vai descansar para o outro lado do mundo, voltarei a pensar, fiz alguma coisa? Não… Mas amanhã será outro dia…
Hoje e amanhã…e vou levando cada dia de cada vez, para que cada um tenha o seu tempo…

18.01.2006

27 outubro 2006


Sinto-me quase abandonada. Sinto-me quase defraudada. Por mais que me custe aceitá-lo, tenho de admitir, finalmente, que existem sonhos que não são meus, ilusões que não foram feitas à medida da minha imaginação, e lugares que fora feitos para nunca serem meus, ou nossos. Não me consigo despedir de uma vez por todas, por mais que tente, acabo sempre por voltar atrás, numa tentativa, mais uma, de manter o sonho vivo, premente, e permanente, à tona, das lágrimas que choro, num lago já roto por onde escoas a tua vida, numa tentativa alucinada de te ausentares de mim.

Se eu pudesse e conseguisse arrancar todas as memórias que te fazem vivo em mim seria tudo tão mais fácil. Ficaria apenas esta sensação de dor viva, mas pequena, pois não lhe saberia atribuir dono.

16.10.2006

Depois de tanto mal, depois de tanta dor que me causaste, depois de tanta raiva que te sinto todos os dias, interrogo-me porque ainda assim continuo a amar-te. Não é amor. Não é. É apenas uma grande paixão. Uma paixão avassaladora que não me deixa respirar, nem continuar a viver a vida. Que não me deixa olhar mais além. Que me está a obrigar a parar, a deixar de olhar para o céu. Eu quero-te. Vou-te querer sempre. Mas é apenas uma paixão. Tudo vai passar. E daqui a alguns anos vou-me rir das noites mal dormidas, das insónias permanentes a pensar em ti. Foste como uma droga na minha vida. Um vicio. Uma profunda adição. Eu consumi-te diariamente. Completamente dependente. E agora que não te tenho, fico aqui, a tremer, num profundo delirium tremens, a ter alucinações permanentes de que me estás a abraçar ainda. E que ainda fazes amor comigo pela noite dentro. Esta ressaca que não me abandona, este profundo abandono de mim, esperando que um dia regresses ao meu corpo. A qualquer coisa que te agrade ainda em mim. Destruo-me. Mas ainda assim tu não me vês. Não dás por mim. Odeio-te. Odeio-te. Tu não me vês. Tu não vês que estou a sofrer. Tu não queres saber. Mesmo que visses tu não quererias saber. Tu não me vês. Mas ambos sabíamos que isto acabaria por acontecer. Mas preferi percorrer toda a espiral de loucura. Até ao fim. E agora faço o quê?

16.10.2006

Não ultrapasso a dor de me sentir abandonada por ti. Não consigo fingir e continuar como se este buraco gigante não estivesse a corroer o que restou da minha alma. Não foste o lobo mau. Não foste o Principezinho. Muito menos o rei. Mas ficaste muito aquém do sapo, o encantado.
Destruíste-me mais uma vez. Mas tal como a Fénix renascida das cinzas acabarei por remoçar e regressarei, mas ao contrário da mitologia… muito menos viçosa, muito menos bonita. Com muito menos vida. Sempre sem ti.

16.10.2006

Olho para a água nas noites de luar da lua muito cheia. E ela, feita de um luar de prata, diz-me que algures lá do outro lado, também a olhas da tua janela, e pensas em mim.
Pelo menos é assim que tento imaginar naquelas noites de pura insónia em que me deito aos pés da cama e me fico a observar a lua pela janela escancarada como nos dias em que aguardava o som do teu carro a parar à porta e o som da tua chave a entrar na porta.
E eu fingia que dormia para te receber na nossa cama.
E em que nos aninhávamos nos corpos um do outro e nos recebíamos em rios de lava e de prazer.
Mas hoje é apenas o luar de prata que alumia aquele pedaço de rio que vejo deitada nos pés da minha cama. E aguardo qualquer som, de qualquer carro, para fingir que são as tuas chaves e que ainda sonho com o teu regresso.
E a lua sobe, sobe e deixa-me, também, ela…

Devagarinho… tudo passa.

21.09.2006

26 outubro 2006


Tantas loucuras depois, tantas noites em branco nos teus braços, depois de tantas horas a fazer amor, descobrindo o teu corpo e descobrindo todos os teus sabores, descobri que afinal não passei de um pedacinho da tua vida. De um pedacinho do teu céu.
Não fui quase nada. Não passo de uma ténue, muito ténue mesmo, lembrança. Quando acordas de manhã não me sentes o cheiro. Não me farejas como se eu tivesse passado pela tua cama. Não sentes os lençóis ainda quentes do calor emanado do meu corpo. E não me recordas. Não me recordas ao fim do dia. Não me recordas quando olhas o mar. Não me recordas quando enterras os pés na areia. Não me recordas quando te deitas à noite e o sono se aproxima de manso e te arranca os últimos pensamentos lúcidos.

13.10.2006

25 outubro 2006


Na realidade não foi nada que já não soubesse que acabarias por fazer. Depois do teu grande inferno ter terminado, esqueces-te de mim, fechaste-me numa caixa, longe do teu coração, da tua alma, da tua vida e da tua vista.
O choque maior foi o não me teres procurado. Foi nada teres dito. Uma palavra. Uma pequena palavra. Apenas isso. Mas nada. Estiveste apenas demasiado ocupado, demasiado afastado para o poderes fazer. Ditaste o fim de uma era. A era em que eu, mesmo sabendo que a vida não são rosas me esforçava por acreditar que um dia voltaria a sonhar. Afinal os adultos têm razão. A vida não é um sonho. E eu não sou a cinderela. Tu és um desses adultos. Fizeste-me crescer abruptamente. Mas cortaste-me as pernas e os pés para poder continuar a caminhar. Seguir em frente, descobrir novos sonhos, novos ideais, novas raízes para me segurar e poder continuar em pé.

O pior é não me arrepender.

11.10.2006

24 outubro 2006


Ontem, fez 4 anos.
A todos os que ultrapassaram essa péssima altura das nossas vidas ao nosso lado... Obrigado.
As nossas vidas, hoje, têm outro sabor, têm outro valor.
A vida é linda não é?

23 outubro 2006


O tempo passa mais devagar todos os dias, porque quase sempre vem o teu cheiro que repentinamente invade o meu ser e o meu ambiente. E eu fico ali, assim, apenas parada a respirar-te, como se tu fosses regressar e deixar-me entrar para sempre na tua pele.
Mas a porta nunca abriu. Nuca abre. E tu nunca voltas.
E o tempo não passa, e esta dor não para.
E pior. Eu não fico mais calma. Não fico mais mansa. Não fico. Ainda me custa a respirar quando te sinto o cheiro. Ainda me tremem as pernas quando te imagino ali ao meu lado. Ainda estremeço quando te adivinho o contorno na cama.
E por tudo isso não te esqueço.
È uma palavra solta. É uma vaga miragem. É o adivinhar do teu riso. É o imaginar o som das tuas palavras.
E continuo a lamber-te as feridas como um cão abandonado na vã esperança de que um dia dês pela minha presença, pequena e mesquinha, aos teus pés.
Mas esse dia não chega. E eu cada vez estou mais cão, e mais mesquinha.

21.09.2006

Tenho saudades. Saudade de dançar até ficar extenuada. Saudades de dançar colada aos teus olhos e excitar-te o mais profundo ser da tua existência. Tenho saudades. Saudades de acordar e sentir-me nova para a vida, como se ela ainda estivesse toda pela frente e tivesse ainda a minha pele e a minha alma de criança. Tenho saudades. Tenho saudades de te dizer o quanto te amo, sem receios de que amanhã tenha de me vingar de qualquer atitude. Tenho saudades de não me precaver do tempo que passa e deixa as suas marcas, indeléveis. Tenho saudades de dançar, até ficar molhada, por dentro e por fora, e com o ritmo a marcar-me a cadência do corpo, da alma, da vida e dos pensamentos. Tenho saudades de quando descansava os olhos em ti na pista de dança e eu era a rainha das tuas noites. Tenho saudades de ser tudo, pelo menos para mim. Porque todas as manhãs eram um novo dia. E tenho saudades da sensação de ter a vida toda pela frente, porque amanhã poderia sempre recomeçar tudo de novo.

22.09.2006

19 outubro 2006

O MELHOR OUTUBRO DESTE CÉU


É o inicio das chuvas,
o Amor.


Encontramo-nos de cabelos acesos,
mãos encharcadas de ruínas
e tremente solidão.

E é como se um anjo - menina
nos guardasse
o fruto do Inverno no olhar.

Amo-te
(diz de novo)
amo-te,

E serei Outubro de um só dia,
no céu de toda a
tua vida.

In "A Oeste deste Céu" de João Mancelos

A pior solidão é aquela que me impede de sair do teu lado de uma vez por todas. Mas que não me prende a ti.
A pior de todas é aquela que vivo ao teu lado, permanentemente, todos os dias da minha vida. Até que a morte nos separe?

Mas tantas das outras pequenas solidões quebram-me o fio da vida e da lucidez…não te poder ouvir… o tom da tua voz cheia aí longe de mim. Porque tocar… já não faz parte de todos os sonhos de todos os dias.

A pior lembrança é aquela que me acompanha dia e noite, quando fecho os olhos e os abro e ela está sempre lá.
Perdi-te mas estás sempre comigo, assombrando-me os dias as noites, as horas e os segundos. Sempre presente. Nunca ausente. E isso é o que mais me dói a alma.
Não aguento estar sem ti, sem o teu carinho, sem o teu e o meu sorriso, o meu coração, quase, quase, sempre a deixar de bater.
E se ele deixar mesmo de bater e eu parar de respirar deixas-me um pedaço de céu sem ter a tua lembrança presente em mim, constante?

1.10.06

18 outubro 2006


Hoje subi as escadas do nosso primeiro ninho de amor.
Sei que parece piroso. Mas foi mesmo assim que senti, e sinto que vou sentir sempre. Aquele apartamento despido, vazio de sentimentos e de paredes descoloridas que enchemos de amor.
Aquelas paredes, de pé alto, de antigamente, onde a luz do sol não chegava quase nunca e que nenhumas mãos chegavam ao seu topo.
Nós chegámos.
Nós enchemos aquelas paredes, aqueles quartos, aquelas salas todas cheias, totalmente cheias de amor. Do nosso amor.
Foi ali que me senti volátil pela primeira vez.
E que me fizeste explodir.
Só muito mais tarde experimentei a tua explosão.
Mas fiquei com o teu gosto na boca.
Já o tinha, mas naquela noite… ele enterrou-se-me na pele para sempre.
É verdade que nem sempre te sinto o cheiro, como se eu fosse um cão de caça, daqueles que tinhas.
Ainda tinha a chave da caixa do correio.
E apertei-a no meu peito.
Tanto, tanto que me fez doer a alma e a vida. E a vista turvou-se-me de lágrimas.
Foi ali naquelas escadas que senti pela primeira vez o peso das linhas que me escreveste.
E ao olhar para cima, revi-me numa correria louca para lá chegar ao topo, e abrir a porta, com as mãos trémulas para poder beber as parcas linhas que me escreveste numa única vez.
Aquela tua letra perfeita, como tu.
Aquela tua responsabilidade, pela distancia que nos unia… e que também nos separava.
Hoje são muito mais coisas que nos separam que aquelas que nos unem.
Pergunto-me se alguma vez voltarei a subir escadas assim, na vã loucura de te ler, ou apenas de te ter e encher-me de vida e do teu sorriso em salas vazias que poderei abrigar todas em mim.

15.09.2006

17 outubro 2006


Eu deveria saber melhor que tu um dia acabarias por não regressar aos meus braços. Que te perderias pelas baías de outros braços.
Eu deveria saber que um dia a minha estrelinha não seria suficiente para te fazer regressar e que outras estrelas te iluminariam melhor o caminho.
E agora estou aqui magoada.
Eu deveria saber melhor.
Que um rei montado nos cavalos marinhos dos meus sonhos não poderia ficar para sempre.
Eu deveria saber melhor.
Eu deveria saber que um dia regressarias aos teus mares, e que encontrarias outras ninfas que precisarias de salvar.
E que eu ficaria guardada num pedaço escuro e trancado do teu coração, amordaçado e afogado no mar, onde não o encontras para não te doer a alma.
Eu deveria saber melhor que as noites lindas de amor perfeito e de sintonia total não se repetiriam para sempre.
Mas eu pensei que tu saberias que eu te esperaria sempre.

Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.

Consegues sentir as minhas palavras?
Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. E mesmo assim é tão pouco.

21.09.2006

16 outubro 2006


Tens consciência de toda a minha solidão?
16.10.2006

É esse teu nervoso hábito de carregares o mundo sobre as tuas costas.
É essa tua maldita mania de protegeres os que não são assim tão pobres nem tão inocentes.
E de arcares com culpas que não são apenas tuas e outras que de forma nenhumas serão tuas.
Não continues a adiar os teus sonhos. Eles também envelhecem. Eles também se desvanecem.

Mas eu também estou aqui. Nem sempre inteira. Nunca perfeita. Mas espero por ti. Para ver esse teu sorriso largo e franco. Aqui, à distancia do meu braço.

15.09.2006

15 outubro 2006


Sempre que calei achaste realmente que eu não sabia? Todas as vezes que me virei para o lado e fechei os olhos com mais força achas-te realmente que eu seria assim tão pequenina e apenas desinteligente? Todas as vezes que mordi os lábios e cerrei a boca, paralisei a língua e encerrei as pálpebras achaste realmente que era apenas uma certeza em não te querer deixar-me ver a chorar?
Como te enganas sobre mim.

7.10.2006

13 outubro 2006


Hoje venho apenas pedir-te que sobrevivas.
Sobrevivas, um dia após o outro até ao final do teu calvário.
Não sabemos quando ele terminará, e sei que te peço demais nesta altura. Quando tudo já devia simplesmente ter terminado.
Eu sei.
E também sei que todo o meu amor não é suficiente para te manter à tona. Mas tens que o fazer.
Não por mim, não por todos os outros que te amam, mas apenas por ti.
Para que possas sentir de novo a sensação do mar a lamber-te os pés. Para que possas reconhecer de novo a sensação do vento a acariciar-te a pele e dizer-te, finalmente regressaste.
Hoje peço-te apenas que sobrevivas.

15.09.2006

O amor começa quando nascemos.
E a liberdade também.
Bem como a entrega.
E é assim que tu és para mim.
Chegaste no dia em que os meus pulmões se encheram de ar pela primeira vez. E lá ficaste, aguardando a tua vez de me encheres a alma de sonhos e a essência de amor, aprendendo a falares cada pedaço da minha linguagem, amando-me e fazendo-me sentir mais mulher em cada partícula do teu olhar de mar feito de azul celeste em dia de sol ardente de quem ama até ao fim do mundo.

14.09.2006

12 outubro 2006


Não existe pedra sobre pedra.
Quero acordar de uma vez por todas e abandonar-me de uma pele vazia, já vazia de mim.
Não me sinto, não me vejo, não me reconheço aqui. Nesta vida, nestes sentimentos mesquinhos e pobres.
Eu não sou assim.
Ou serei?
Serei apenas uma pessoa como todas as outras vulgares e nada me distingue da massa?
Já não existe nada na minha vida.
O fio ténue que me prendia à realidade quebrou-se de uma vez e violentamente.
E agora?
Derramei-me no chão da minha casa, e fui-me pingando, deixando-me pelo caminho, sendo evaporada pelo sol e pelo calor.
Não ficaram quaisquer resquícios da minha pessoa.
Deixei de existir.
Apenas eu me vejo e nem eu me reconheço.
Não sou nada, nem tão pouco ninguém.

Tu também já não estás aí…

21.09.2006

11 outubro 2006


O amor é tão frágil. Frágil, como só tu sabes ser naquele olhar, leve, e cheio, muito cheio, de vida que me dás nas manhãs em que me olhavas à despedida, enquanto o sol nascia. Frágil, como naquelas noites em que me vias chegar aos teus braços apressada, por entre os carros. E voávamos, frágeis, ambos, frágeis. Demasiados frágeis, porque naqueles tempos éramos os dois feitos de vidros e de contas transparentes, de vidros fundidos pelo amor dos deuses. E hoje, aqui, parada a ouvir uma música qualquer que marcou uma cadência dos nossos corpos, enquanto fazíamos amor, descobri que serás sempre vidro, frágil, translúcido em mim. Porque é assim que te guardo. Puro. E apenas meu. Frágil. Tão frágil. Como apenas o amor pode ser. Naquelas noites nossas, penas nossas, em que o amor era tão frágil, e tão nosso, em que mal respirávamos, com receio de apenas o sopro que nos dava a vida o partisse. O nosso amor tão frágil. E agora guardo-te na mais bela caixa dentro do meu coração. E de vez em quando reabro-a, para te rever. Tão frágil. Porque o amor, todo o amor é frágil. E quando se ama assim, todos nos quebramos.

Porque o amor é frágil.

12.09.2006

Já te disse hoje o quanto te amo? Já te disse hoje o quanto sinto falta do teu cheiro, de cabedal, pele e couro? Já te disse o quanto sinto falta da tua pele enrolada na minha a dar-me os bons dias cheios de prazer e desejo? Não te digo o suficiente que te amo. Mas amo-te. Mas amo. A vida tirou-nos um do outro. Jamais nos deixará ficar ao lado um do outro. Mas ainda assim, embora em dias de revolta, te negue, nalguns dias amo-te apenas. Hoje amo-te apenas. E de todo.

10.09.2006

10 outubro 2006


A pior solidão, sem dúvida, é aquela que se vive acompanhado.

Sai de uma vez e deixa-me sair para sempre.

24.09.2006

04 outubro 2006


Algumas coisas não se verbalizam. Tu não te podes verbalizar. E eu não te consigo verbalizar, nunca consegui. Não te consigo pôr por palavras. Não te consigo pôr, por mais que tente. São tantas e tão díspares aquelas que te caracterizam. A tua distancia. A tua frieza. A tua magnitude. A tua proximidade. A tua língua quente. O teu olhar frio. O teu olhar, com que me enches, quando me dás um cigarro já aceso, e molhado pela tua boca, para que eu possa sentir, muito melhor, o sabor da tua língua na minha, aquele sabor quente e suave que conheço tão bem. Não te consigo explicar, não te consigo pôr palavras. Não posso. Não poderia nunca descrever-te. E dizer-te que dentro do meu peito tu és a minha vida, o meu coração a bater. E se não tivesses passado como uma estrela cadente na minha vida jamais teria voltado a saber a que sabe a brisa do rio à noite enquanto me seguras nas ancas. Jamais teria reconhecido o som do meu coração a bater quando me abraças na cama. Jamais me terias devolvido o sopro que me enche de sonhos quando sinto a tua respiração na minha nuca e te aconchegas nas noites em que me enches os braços e a cama. Preciso de te verbalizar. Mas não te consigo pôr por palavras. És tanto e tão grande. E tão pouco e tão fugidio. És apenas um sonho. E sonho-te todos os dias. Mas a saudade não me chega já para te ter. Já não me chega para não te verbalizar. E preciso pôr-te por palavras. E tu sabes disso. E por isso não me deixas chegar. E por isso levantas ainda mais o muro que nos separa. Mas ainda assim preciso de te pôr palavras. Qualquer palavra serviria. Desde que te identificasse. Mas nada chega para ti. Tu és tudo. Tu és eu. Porque não me deixas ser tu? Porque não me deixas ficar diluída na tua pele… apenas isso?

08.09.2006

03 outubro 2006


Se eu te amar e te devolver todas as mentiras que me deste, voltas para mim e fazes-me sentir outra vez amada?

14.09.2006

02 outubro 2006


Hoje saíste. Saíste como sempre sais.
Sais porque não suportas mais estarmos um ao lado do outro.
Cada vez foste suportando menos e agora, não suportas apenas nada.
Apenas.
Vomito-te palavras que te magoam propositadamente, para que saias mais depressa.
E fico aqui desamparada, numa depressão cada vez mais profunda cada vez mais negra, temerosa do que vai ser amanhã a minha vida quando me levantar.
A minha independência está cada vez mais longe.
E tu que estás cada vez mais separado de mim.
Apenas as aparências e aquilo que não queremos dividir nos mantêm juntos na mesma habitação. Mas a cama tem uma divisória ao meio.
E quando nos aliviamos de uma tensão sexual, que não traz prazer nem sossego a nenhum de nós… não nos tocamos e sentimos que estamos a invadir o espaço de cada um, do outro.
Estás aqui, na mesma casa que eu.
Mas a casa tornou-se pequena para os nossos sentimentos antagónicos, um ao outro.
E, quando partilhamos o mesmo sofá, a mesa às refeições apenas não suportamos o olhar um do outro, o som das nossas palavras.
Já não nos suportamos.
Por isso ambos optámos por sair. Abandonámo-nos.
Mas continuamos aqui.
A magoar até nada restar um do outro.
Até onde conseguiremos arrastar isto?

10.09.2006

01 outubro 2006

Por vezes magoas-me por não me dares as tuas palavras.
Algumas noites mostraste-me bem que apenas me amas, só e apenas, com as tuas mãos, com a tua boca, e com o teu corpo sedento do meu, que me faz encher a vida de desejo e de paixão.
Mas por vezes as palavras assinalam uma passagem num segundo.
Por milimétrico que ele seja e por mais inaudível que ela fosse. Por vezes queria apenas uma palavra tua.
Tua. Tua. Tua.
Ouvir-te dizer-me, não que me desejas, não que te dou prazer. Isso sempre me disse o teu corpo. Mas apenas que me amas.
Diz que me amas.

08.09.2006