31 maio 2007


As nossas conversas não têm fim. São palavras sem retorno, ou serão apenas os sentimentos que não retornam a nós? Por mais que peça para sejas meu, para que me ames na totalidade, de tudo aquilo que eu sou, ainda assim tu não te entregas. Guardei os teus beijos no fundo dos meus bolsos. Guardei as tuas carícias no fundo das minhas costas para que te sinta roçar-me todos os dias sempre que caminho ou simplesmente quando me mexo. Sabes que te digo adeus todos os dias. Mas também sabes que um dia esse adeus será então definitivo e já não existirá mão, beijo nem carícia nem toque que me faça sequer olhar para trás e rever a tua sombra altiva a espraiar-se pelo chão da areia da nossa praia. E aí serás tu a pedir aos céus que eu volte para trás, que eu te volte a amar. Mas será tarde. Já não me terás. Nem aí, nem aqui, nem em lado nenhum porque já terei partido.

28.05.2007

28 maio 2007



Hoje seria apenas um daqueles dias, daquelas horas em que me gostaria de transformar num ser pequenino e invisível, para recomeçar uma caminhada interrompida. Encontrar uma praia, uma que não fosse a nossa, e divagar, deambular, pondo o pensamento no sítio certo e o coração do lado correcto. Enrijecer a musculatura de todo o meu corpo, pondo-a nos sítios apropriados e fazendo os desvios necessários para que o sangue me fizesse viver, mas não reviver em ti. E depois, quando estivesse nada mais que exausta, tão exausta que me seria impossível sequer pedir à minha mais santa de devoção, ajuda para não me perder de mim própria outra vez, e cansada o suficiente para que apenas o repouso simples e imediato, o esvaziar até do silêncio na minha mente, demasiado nebulosa por estes dias, nada mais que isso, e, que me fosses imprescindível, e aí, nesse segundo, sem pensar duas vezes e sem olhar para trás, descobriria um buraco demasiado profundo e demasiado longe de tudo e de todos, numa noite demasiado profunda e escura para te enterrar bem fundo, fundo o suficiente para não te voltar a encontrar nem tão pouco te seguir os sinais para o tentar fazer. E aí enterraria, juntamente contigo, todos os sabores dos teus lábios e dos teus beijos, todos os odores do teu corpo, o da manhã, o da noite, o de quando bebes, o de quando não bebes, o de quando fumas o cigarro fresco, o da pasta de dentes, o do sabonete de mel, o do perfume e até o do simples odor simples da tua pele. Enterraria também o teu mar azul com que me olhas cada vez mais friamente, e acima de tudo era lá que ficaria a distancia que existe, cada vez maior, entre nós, na cama, entre os nossos corpos, quase adormecidos, mas suficientemente alertas para evitar qualquer contacto, desejosos e desesperantes pelo desaparecimento do outro, do espaço livre e visível à sua volta, na mesa, em que não cruzamos um único olhar, nem sequer de desprezo, e, até no carro, que qualquer roçar de mãos é abrasador, cheio de raiva e diria até de repulsa.

Se andar o suficiente para extenuar o meu corpo e a minha mente será que te conseguirei abandonar como tu me abandonaste a mim há muito tempo atrás?

17.05.2007

24 maio 2007

Saudades de um Anjo desconhecido


Tenho saudades tuas. Estes diálogos silenciosos que mantenho contigo à distancia de um dedo, em sons não audíveis por ninguém mais que não eu mesma, os pensamentos vedados a mim própria, pelo menos a toda a extensão que sou eu. Tenho saudades tuas. Tantas que se me abre o peito e sangro ar, que me sai às bolhas, rarefeitas pela dificuldade em pôr em palavras a falta que me fazes em amor. E não seria tão bom se ambos conseguíssemos ultrapassar a barreira do som e sem mexermos sequer a boca nos disséssemos tudo o que temos entalado, escondido, vedado, enterrado, encaixotado, emalado, fechado num apenas olhar cheio de significados? E sem ressentimentos e esclarecidos seguíssemos em frente sem dúvidas. Tenho saudades, quando cheia da energia que me fazia ser sempre miúda, te dizia em catadupas tudo aquilo que sentia, sem amarguras e sem receios de estilhaçar as tuas asas de anjo invisíveis, já demasiado quebradas para voarmos para longe daqui.

16.05.2007

21 maio 2007


Deixa-me beber dos teus lábios as palavras que brotam do teu coração, tão lentamente. Deixa-me ser o teu pensamento a divagar por entre os sonhos, as ilusões, as descrenças e as esperanças da tua mente já tão impura quanto desacreditada. Deixa-me ser o toque das tuas mãos, quando as tens dormentes e não consegues palpar o longo caminho que tens pela frente do teu cérebro inebriado. Deixa-me ser o teu caminhar quando andas sem destino e sem paragens finais com o coração ao largo do peito. Deixa-me ser o mar que te acalma e te faz sentir solene. Deixa-me ser a areia que te cobre os pés cansados e deixa-me ficar ao teu lado, silenciosa, enquanto descansas o olhar num horizonte que um dia quero que seja de ambos.

16.05.2007

19 maio 2007

Amor, sempre o Amor


Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque me queres sentir o coração a bater no teu.

Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque sou a mulher da tua vida.

Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque sem mim não respiras e encolhes sem me teres em ti.

Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque sem fazeres amor comigo o teu sexo não é sequer uma extensão de ti.

Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque me vês ao acordar, e me sonhas quando dormes e me sentes ao teu lado ao adormecer.

Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque nas alturas da vida mais dura é em mim que te sentes seguro.

Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque é a mim que me vês quando sorris.

Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque é no meu corpo que te queres amansar sem fim.

Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque sou eu que te causo lágrimas que choras sem fim misturadas com sorrisos de causas perdidas.

Amo-te.

Diz que me amas. Diz que me amas porque é a mim que me amas.

Amo-te.

16.05.2007

17 maio 2007

Dias novos


As promessas que chegam pela manhã com a verdade nua e crua do dia que nasce e da esperança que se renova a cada dia que passa, essas são as mais difíceis de conviver e enterrar no crepúsculo de todos os fins do dia quando o sol se deita. Porque pela manhã tenho sempre a esperança que esse novo dia que se avizinha seja diferente, e que, seja hoje, neste dia que volta a dar-nos todas as hipóteses de redenção e de vivência completa, que seja neste dia que me digas com os teus olhos, com o teu corpo, com a tua mão, que procura o bater do meu coração, que seja hoje o dia em que te oiço um Amo-te. Mas nunca é. E no fim do dia nunca chego a entender porque me dizes Adeus. Sempre. E todos os dias, quando acordo, e as tais promessas que chegam pela manhã, peço a Deus que seja nesta, a manhã, que seja este o dia e principalmente, que seja esta a noite em que não te vou perder para qualquer outra pessoa. Mas é sempre. E todas as manhãs, afinal as promessas são mais ténues. E a cada dia, por mais promessas que a manhã e o início de um novo dia me tragam, estou mais fraca pelo alongamento exagerado da paciência.

15.05.2007

16 maio 2007

Aprender a Escutar


Um dia deste-me uma voz e disseste-me para a seguir. Ouve-a, disseste-me tu. Ouve-a bem, ela dir-te-á o caminho a seguir. Mas não me disseste que quaisquer caminhos que escolhesse teria de os traçar só. Sem ti. Eu sei que crescer implica quase automaticamente deixar de sonhar, pelo menos tanto quanto eu, eu sei disso. Mas tu já me deverias conhecer um bocadinho melhor… deverias ter reconhecido que não saberia percorrer estas longas distancias sem um colo amigo ou um abraço apertado. E nestes dias, de lonjura dos teus braços, da tua boca e do teu desejo sinto-me ainda mais perdida. E não sei tomar novamente o azimute à vida.

Devia ter colado um íman à bússola que te ofereci. Assim ela não te teria levado para tão longe de mim.

12.05.2007

15 maio 2007

Amores Inacabados


É definitivo. É certo. A vida deu-te o amor que o Destino não te fez sentir por mim. Por mais que eu te amasse de todo o meu coração, aceitando-te com todos os defeitos e feitios, mesmo aqueles que não me agradavam, ainda assim não foi suficiente. Não te quis mudar. E porque achei que não serias tu, deixei-te ir, mesmo sabendo de antemão que esse caminho que seguias levar-te-ia para longe de mim. E nesse dia, soube que por mais que deitasse as minhas cartas, e que por mais que acendesse velas aos meus santos de devoção, e por mais que fosse à missa de todos os domingos, e que comungasse todas as madrugadas os pecados que cometi e até aqueles que inventei, jamais a minha vontade seria suficiente para te trazer de volta para mim. Mas é certo, que se te foste da minha vida, que seja então para sempre, que essa seja a tua vontade de agora em diante, e, que não voltes quando a vida te atirar ao chão e não tiveres aonde nem a quem te segurares. Eu já chorei quase todas as lágrimas por ti, já percebi, de uma vez por todas, que não voltarás, e se voltares será por pena, de ti ou de mim, mas também isso seria indiferente. Sei que ambos olharemos um dia para trás, não vale a pena dizermos um ao outro que não o faremos. Um dia por outro sentiremos a falta daquilo que tínhamos – ou imaginámos – ter nos braços um do outro. Tentei. Mas se todo o meu amor, devoção, dedicação e ternura não foram suficientes para te fazer completamente feliz e realizado será melhor, saíres e depressa, para o tempo passar e a dor amainar e tornar-se apenas uma sensação de ligeira saudade de um passado que ambos imaginámos à medida dos sonhos do outro. E que sejas feliz. Mas não voltes para me deixares de novo quando estiveres reconstruído e sarado das feridas que a vida te dá. Mas que sejas feliz. E que ames da mesma forma que um dia te amei, com a mesma paixão, com a mesma loucura, e que encontres um grande Amor. Mas não voltes quando deixares de ser feliz. Vai mas deixa-me de vez. Mas sê feliz.

11.05.2007

14 maio 2007


Gosto de te olhar. Gosto de ficar deitada ao teu lado a respirar o ar que exalas enquanto dormes e cheirar-te e sentir-te o sono, pesando-o por entre as mãos e por entre as pernas, protegendo-te dos sons, respirando silenciosamente – e, também mais baixo que o costume – para não te invadir os sonhos e o sono. E nessa altura és quase meu. Apenas quase só meu. Posso abraçar-te e fingir que te ponho a mão debaixo da camisola, ali mesmo por cima do coração, e, que te tenho a bater-me por entre os dedos. E sinto-te frágil, numa fragilidade que no fundo sei não ser tua (nem minha), apenas inventada – por mim – para que sejas um bocadinho mais meu nestes segundos que te prolongo (meu) fingindo que se te amar o suficiente tu também (me) vais amar. Sabes que te carrego enlevado nos braços, adornado de nuvens brancas como se de um anjo de asas – quebradas e renegado –, te tratasses. Mas sabes que mesmo que não me deixes entrar num paraíso que sei existir entre os teus braços e no teu coração, para alguns, ainda assim não deixo de te ver assim – da forma que te sonho. E mesmo quando te transformas num anjo, mais tenebroso, ainda assim, não te deixo e fico-te a embalar, aguardando que a tua forma amorosa regresse. Mesmo que ela seja apenas uma miragem por vezes. Mas és a minha miragem. Porque deves sempre saber que pela importância que tens para mim e na minha vida, sempre que estiveres só eu estarei ao teu lado. E sempre que tiveres frio eu estarei por perto para te agasalhar. E sempre que tiveres fome de Amor eu estarei nas redondezas para te amansar o coração nem que seja com um amor fingido para mim, mascarado de outras para ti. Mas estarei sempre por perto. Porque quando dormes nos meus braços, ou simplesmente ao lado deles, posso fingir-te meu.

11.05.2007

13 maio 2007


Sabes quando dizemos olá e a outra pessoa responde-nos adeus? Os grandes Amores, dizemos nós, não morrem, dizemos nós, juramos até se preciso for. Mas no fim, depois, quando não sobra mais que a raiva, ou até essa já passou, fica apenas uma breve e ligeira memória, longínqua de tudo o que passou, e pior, sabes, com o passar dos anos ficam as lembranças ligeiramente enubladas, ligeiramente distorcidas, até não passar de uma simples amálgama de recordações difusas e confusas. Gostaria de não te ter esquecido, tanto, pelo menos. Já não te queria a matar-me o ar e a vida, a encher-me de cabelos brancos e de tristeza que não passava de forma nenhuma, por mais que me pintasse, a mim e ao cabelo, permanecias-me lá. Na pele. Mas agora foste-te, e não permaneceu nada, nem as lembranças da primeira vez que fizemos amor, nem da primeira vez que me foste buscar à escola. Guardei-as tão fundo no meu ser que hoje não as consigo encontrar pelo rastro, nem pelo cheiro. Os anos e as memórias sobrepostas, as raivas, as mágoas e as saudades deram cabo de ti e de tudo o que eu deveria ter salvado de um naufrágio que se adivinha em todos os grandes amores. Teria sido bom se tivesse salvo alguma coisa. Teria sido bom, hoje que já passou o ódio de ter sido trocada, a angústia do teu amor por mim não crescer em latitude e altitude a cada dia que passava, depois de tudo isso, até da saudade ter passado, é uma pena não ter guardado no meu coração a lembrança das noites por baixo de um luar grande e amarelado na praia de mãos dadas.

Pensando bem, por vezes nem sei senão terás sido uma simples imaginação da minha cabeça. Talvez nem tenhas existido…

Vou ainda procurar-te mais um pouco. Depois de tantas décadas, talvez ainda te consiga encontrar pelo cheiro dentro de mim.

11.05.2007

11 maio 2007

És sonho. Foste sonho. Já foste um sonho na minha vida. Já não o és. Afinal já não o és. Tantos nãos, tantas palavras em sentido contrário, fizeste esticar a corda tantas vezes que agora ela, embora não esteja partida, ficou frouxa…, e eu não gosto de coisas assim, largas, gosto de coisas que me envolvem e me apertam. Já não és tu. Digo eu. Tu perdeste-te num caminho tortuoso, que achavas tu, te iria levar a uma riqueza que não é a interior. Agora os teus beijos já não me fazem queimar o coração. O teu toque já não me faz arder a pele. Já não deixo de dormir a pensar em ti. Já não fico sem conseguir fechar os olhos sem que a tua imagem me ocorra constantemente nas pálpebras invertidas. Já não és o dono dos meus beijos, do meu coração, do meu anseio, dos meus suspiros e acima de tudo dos meus braços. Arranjei-te substitutos à altura. E agora já não tenho lugar para ti na minha vida. Ainda aí estás? Aguardas mais o quê? Esperas a altura em que voltarei a ficar só? Com as saudades a invadir-me o corpo e a alma e me encha de saudades tuas, do tempo+o em que só existíamos nós e o mar? Esse tempo acabou. Já sofri afogada nesse mar vezes demais. As vezes que me deixaste e em que eu me deixei ficar escondida no passado e na vida que não era a nossa.

Agora só importa as estórias de Amor que eu posso construir daqui para a frente. O que aconteceu antes foram preparações para a Vida. Não devemos nada a ninguém. Vamos ser apenas felizes. Deixas-me?

7.05.2007





10 maio 2007



Ouve-me. Ouve-me com atenção. Eu estou sozinha, não tenho ninguém em casa à minha espera, à espera do meu amor de mulher, à espera de que eu acredite noutra pessoa para que ela viva e respire. E por isso mesmo eu tenho de encontrar uma forma de viver sem todo o amor que me consome e me transborda sem dono. Cansei-me de acreditar em ti, sabes? Fizeste de mim uma voz sem palavras, um corpo vazio de homem, que abraça o vazio pois é aí que te reconhece. Já não acredito em ti. Essa é verdade, pelo menos não creio em ti sem dó nem piedade. Porque descobri que não é em ti que me vou encontrar, nos teus braços, no teu coração, no teu corpo. Mas tu não me dás a paz que preciso. E continuas na minha mente a dizer-me que eu não sei apenas o que sinto, e que eu sou feita de ti, mas quando chegas perto de mim não me descubro na tua pele, e, poderia, ainda, fazer um mapa de todos os caminhos que já tracei no teu corpo mas ainda assim não me levariam até mim mesma. Ouve-me. Ouve-me com atenção. Eu estou sozinha. E longe do meu coração, que continua fugido, escondido, dilacerado, magoado, e, claro, sempre sem ti. E tantas vezes também sem mim. Já não acredito em ti. Não me fizeste. Por isso tenho de descobrir o caminho para o meu coração para o consertar. Sem ti. E sem te ouvir.

4.05.2007

06 maio 2007

Mãe


A todas as Mães...
A minha, a tua, a nossa, as nossas, as deles.
Hoje apenas a ti te trago no coração, Mãe.
06.05.2007

05 maio 2007

Amiga


Parabéns....


A vida desabrocha agora no teu ventre.


E terás o inicio de mais um mundo no teu regaço.


Sempre.


5.5.2007

04 maio 2007

Estou cansada, sabes? Mesmo cansada. Ainda não consegui resolver todos os meus fantasmas, arrumá-los numa caixa por ordem alfabética ou simplesmente emalados como a minha gaveta das meias, na mais perfeita loucura, mas que para mim está – simplesmente - perfeita.

Já não me lembro da tua cara. Quando fecho os olhos e tento recordar a tua cara e, ou o teu sorriso vêem-me à memória apenas imagens dispersas, mas acabo sempre por descobrir que são fotografias tuas que vi algures, não são imagens que guardo tuas de recordações vivas, de pequenos filmes que guardamos do passado, ou de filmes que antecipámos para o futuro. Não que faças ainda parte do futuro vivo. Mas ficaram coisas por resolver. Não ficou tudo esclarecido, pois não? Não foi suficientes a tua despedida de mim. A calma que me encheu de dormência ao longo destes meses tem-se vindo a transformar lentamente numa gigantesca fúria e incontável forma de não compreender o mundo à minha volta. Os porquês assomam-me, subitamente, à boca e não durmo, e não descanso, e não fecho os olhos, e não paro de pensar no motivo, no porquê, na forma de entender e de mudar as coisas.

Mas tenho de arranjar forma de fazer as pazes com o passado para poder viver sem culpas o futuro.

Ensinas-me o caminho?

4.05.2007


03 maio 2007


Consegues distinguir o certo do errado? Consegues por completo? Hoje estou com o mundo no peito, sabes, a lua numa mão e o sol noutra. O céu a divagar-me por entre os olhos e o mar a encher-me o corpo de liquido. Não sei o que te dizer, não sei o que te escrever. Que tenho saudades? Isso já não é novidade para nenhum de nós, pois não? Ainda mais para mim, que sempre me sei, conhecendo-me, quase melhor do que todos os outros. Que as saudades fizeram de mim um ser humano melhor e pior em muitos pedaços soltos da minha vida? Isso também já não é novidade para quase ninguém. Que ambos estamos sentados debaixo de uma sombra gigante a observar a deslocação da mesma à nossa volta, a ver se conseguimos descobrir aonde é realmente o nosso lugar? Também já o sabemos, ambos. Os teus olhos deixaram de ser penetrantes, pois já só és capaz de demonstrar alguma ternura na hora de quase deitar os corpos cansados, e quando a solidão habita entre nós. Porque essa que te enche de vazio e te faz julgar que o amanhã pode ser assim, quase vazio como as noites são, sem os gritos e os risos que as crianças e os outros habitantes desta casa nos enchem a vida e o ar. E nessas alturas, em que a solidão, te enche quase tanto a ti como ao resto do espaço que nos circunda tens receio dela e procuras-me por entre os teus braços e puxas-me para a tua boca com receio de que também eu, já de tão habituada à dispersão das palavras e dos sons, me desfaça como tudo o resto na tua vida se vai desfazendo como se de um sonho de açúcar em contacto com a tua língua húmida. E então, sem palavras, ou com elas ocas, o que significa o mesmo, puxas-me para ti e mostras-me como a tua boca já foi doce pelos sonhos que se te desfizeram nela.

29.04.2007

02 maio 2007

Amor e uma Cabana


Não te posso dizer mais nada. Já tentei esquecer-te. Já tentei viver. Já tentei passar ao largo. Sem ti. Mas acabo sempre por voltar ao ponto de partida. Costumava dizer que a vida é como um anel… redondo, e por mais voltas que se dê acabamos sempre por acabar (ou começar) no mesmo ponto. Não consegues compreender que eu cresci. Não consegues perceber como se cresce mas se mantêm alguns sonhos inadiáveis. Não consegues perceber que até morrer eu vou ser uma romântica incurável. E vou exigir sempre o mesmo. Não preciso que me enchas de lembranças palpáveis e valiosíssimas da tua presença na minha vida. Mas preciso sim do teu amor inesgotável, do teu amor sempre cheio, e que estejas sempre presente, que me faças o peito encher-se de flores, e a boca do estômago fechar-se, e a vista turvar-se, e o coração descompassar-se. Compreendes o que te digo? Agora diz-me… disse-te alguma coisa de diferente do que dizia à uma década atrás? Naturalmente já compreendo que não viveremos de um amor e uma cabana. Mas continuo a precisar deles na minha vida. Do amor e da cabana.

29.04.2007