30 setembro 2007

Os Versos que te fiz


Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca

29 setembro 2007


O destino desamarrou-nos e separou-nos quando ainda não era tempo de vertermos lágrimas um pelo outro. As recordações vêm em catadupa e percebo que esta sensibilidade constante que me faz aflorar o choro aos olhos, recebi-a de ti. Foi naquelas noites em que me embalaste sobre as estrelas, dando-me um chão coberto de nuvens e de um céu de noite azulado derramado no branco da lua cheia. Nessas noites partilhadas fizeste-me tua, apenas tua, e agora que o destino nos tirou um ao outro, não sei o que fazer às minhas mãos, à minha boca e nem tão pouco onde pousar o meu corpo sem o aconchego do teu por perto.

26.09.2007

28 setembro 2007


Quando fazes amor comigo e me olhas nos olhos é mesmo a mim que me vês? Ou será apenas um lampejo fugaz e ténue do que eu sou realmente? Quando vês o meu reflexo num espelho achas que sou quem tu queres para o resto da tua vida até ela se quebrar? Achas que construíste o amor tal como o querias ou vamos reconstruindo todos os dias os pedaços que já destruímos no passado? Quando estás comigo estarás em algum outro lado que não na minha presença? Quando acordas ao meu lado e sais de perto do meu corpo sentes falta do meu amor em ti? Eu gostaria de não ter protegido tanto este amor como se ele fosse uma criança demasiado insegura para sobreviver sem protecção. Porque agora que preciso de protecção para recobrar as forças que perdi algures no caminho não sei se confio o suficiente em ti para me entregar toda nos teus braços, pois não sei se é a mim que tu me queres ou se alguma imagem que construíste ao longo dos olhos. Olha-me. É a mim que me vês?

20.09.2007

27 setembro 2007


Não existe qualquer apaziguamento saber que quem partiu está, agora melhor.

Hoje o silêncio desceu sobre a cidade e as lágrimas abriram caminho.

27.09.2007

26 setembro 2007


Desejo despir-me da minha pele, afastar-me da minha alma, e fingir que sou, novamente, uma nova e boa pessoa. E diria alto, em gritos roucos, numa voz grave e solta, que nada disto não teria nenhum significado senão fosses tu, a falta que me fazes na vida. Eu sei que é isso que me impede de acabar; a falta dos teus braços, a falta da quentura da tua língua na minha pele, a solidão que as tuas lágrimas trazem ao caírem-me sobre os olhos quando fazes amor comigo, é tudo isso e muito mais, aquele muito mais que fica encerrado na ponta dos teus dedos quando me procuras na cama durante a madrugada que nos traz mais uma vez para um novo dia. E é aí que a minha alma renasce, e é aí que sinto ainda mais a tua falta. Na minha cama, na minha pessoa, em toda a minha vida. Este passado que não me deixa continuar a buscar uma nova ilusão, medindo tudo por ti.

25.09.2007

25 setembro 2007

Um dia gostaria que entrasses por mim adentro, rasgando-me a solidão, o inferno em que me fecho e que tu tão bem reconheces, mas do qual te afastas, mesmo, mais ainda, quando te peço lentamente para me dares a mão, mas te imploro com o olhar que me deixes só e abandonada para sempre. Gostaria que tivesses a força para me forçares a entrada na mente e me pudesses sacudir como se não me tratasse mais do que um velho tapete, usado e com demasiadas recordações amontoadas e espalhadas. Entrarias na minha loucura e dar-me-ias a mão, levando-me pé ante pé para um lugar calmo e cheio de luz onde seríamos apenas nós. Poderias ter a capacidade de me entrar na mente e salvar-me-ias da minha mais doce e perfeita loucura, que cometo assertivamente, sempre que tento pôr-me de pé para me assentar como se de um prédio sem fundações se tratasse. Este mundo permanente só meu, não te pertence, porque não queres fazer parte dele e acima de tudo porque não tens lugar nele. Mas entra, não que te convide, mas invade-me como se te tratasses de um ignóbil ditador e salva-me de mim própria, entra devagarinho ou mesmo repentinamente, partindo tudo o que se te interpuser - entre nós - sem que percas o norte ao meu corpo, especialmente à minha mão e até à minha boca por onde ambos poderíamos continuar a respirar sempre que te afundasses por ali adentro à procura de um prazer que até ali eu te poderia proporcionar. Dá-me a mão neste momento de doce afastamento, sem que me percas por entre a neblina que me afasta de ti, mantêm-me presa a ti, porque me precisas, e porque me queres.

19.09.2007

24 setembro 2007


Quando chegaste, assim tão vazio de ti, tal e qual as minhas mãos tão despidas de vida e foi desta forma que nos juntámos para nos enchermos um ao outro. Abracei o relógio no teu coração e foi por aí que vi os dias e as noites correrem uma após a outra. As noites mágicas, passaram um por uma , desfolhadas ao sabor do vento e da maresia.


Já fui ave no teu Paraíso.


24.09.2007

23 setembro 2007


Anda, entra em mim, assim, devagarinho, como se não me quisesses acordar ao entrar na cama, e, toma-me nos teus braços e partilha comigo esta tristeza que carrego, quase todos os dias do resto da minha vida, nos meus olhos, no meu corpo, na minha alma, como se as lágrimas não fossem mais que extensões das minhas pestanas, carrega comigo esta tristeza que não sei de onde me vêm, e assim, contigo – realmente - ao meu lado, talvez, quem saiba ela se dissolva, ela é a minha herança, e sem ti é um peso demasiado difícil de suportar só. Esta tristeza que trago em mim, e que sem ti não me deixa sorrir. Entra em mim e ajuda-me a levá-la para longe de nós.

20.09.2007

22 setembro 2007

Digam lá que eu não sou um poço, infindável, de surpresas???



Treino, 5 minutos, 3 a 6 vezes por dia, mas já toco 2 notas....





O filhote decidiu aprender a tocar viola... ou seja mudou, de novo, de passatempo.

E não é que já faz serenatas ?

Por enquanto só para mim...


Não estou tão bonito?




A letra melhorou tanto.....

Pergunta dele; " ...achas que com os óculos vou aprender a tabuada?..."


De quando em vez tomamos consciência da distancia entre nós, embora seja certo que tomamos como certo a presença do outro, na cama, na mesa no sofá, apercebemo-nos que o fim pode estar eminente a qualquer altura, porque caminhamos desde sempre na beira de um precipício. E de quando em vez gritamos um ao outro palavras que nos querem fazer cair de uma vez por todas, pois nenhum de nós suporta esta sensação de precariedade em que vivemos ambos e acabamos por nos arrastar inconsequentemente, como se algum dia não fossemos pagar uma factura elevada também por isto. Apetece-me gritar-te até te rasgar a alma e a vida ao meio. Mas ainda assim não me conseguirias ver toda eu, como sou na realidade.

19.09.2007

21 setembro 2007


A vida continuou. Não parou no dia em que deixei de olhar para ti com os olhos cheios de amor. Mas ainda assim não parei de olhar para ti. Porque não consigo, não o sei fazer, não mo deixo fazer. A vida continuou embora as minhas lágrimas tivessem secado e tivessem deixado de rolar pela calçada na tua direcção como se fossem um rio para te lavar os pés e te indicarem o caminho de regresso para casa. Mas a vida continuou. Ninguém deixou de rir pela falta do meu sorriso. Ninguém deixou de respirar pela falta do meu ar. E a lua continua a crescer e a minguar, inevitavelmente, todos os meses, mesmo sem que eu te olhe todos os dias do resto das nossas vidas com os olhos molhados de amor por ti e em ti. Mas a vida continua. Não vai parar. E nós também não. E a lua, as rosas e o ar vão continuar a vir e a ir, sem nunca pararem ao dar pela minha falta. Nem tu. E eu, afinal, também não parei de viver depois de os meus olhos se me secarem cheios do amor húmido que os mantinha alerta e vivos na tua direcção. Olho-te. E vivo ainda. Ambos vivemos.

17.09.2007

20 setembro 2007


Hoje soubeste assim que pousaste o teu olhar de mar azul em mim. Esta manhã acordei diferente. Apenas me pesa nos pés, por baixo, o caminho que já percorri. Nos ombros não me pesam os caminhos que terei pela frente. Hoje soubeste que eu não me vou precipitar e vou escutar o silêncio que pulsa em mim e me leva por caminhos que me podem levar para vales felizes. E se não levarem já estarei disposta a aguardar na cidade em qualquer sítio iluminado pela lua, à espera das luzes das estrelas que se acenderão para me iluminarem o caminho que terei para percorrer para chegar ao local onde guardámos o coração.

15.09.2007

19 setembro 2007


Sabes que sempre achei que a vida seria bem mais fácil. Sabes que sempre fui uma sonhadora, e, sempre tive a certeza que o amanhã me traria, sem dúvida, um ramo de rosas eternas, daquelas vermelhas, iguais ás que o meu avô tinha no quintal. E, todas as manhãs quando me levanto, olho-te e vejo o teu peito, ali, assim, tão perto da minha mão, e quando passo a mão sobre ti, sinto o teu ar exalado, expirado, que te mantêm vivo, mas ainda assim, embora tão perto, não ligado a mim. Já não me dás flores. Nunca mas deste. E hoje não sei como deixar de sonhar que amanhã será diferente. E não paro de ter a certeza de saber que os meus filhos serão homens diferentes, e saberão, com toda a certeza, amar uma mulher, por inteiro, por dentro e por fora, e não se assustarão com os seus silêncios, como tu fazes. E hoje não vou realmente parar de pensar que existirá um milagre e que amanhã será um dia melhor, e quem sabe, na verdade, por tanto acreditar isso poderá realmente acontecer, amanhã um vendedor de flores, estará, ali mesmo ao virar da esquina e levar-me-á ao teu caminho, ele oferecerá um ramo de rosas daquelas tão vermelhas e tão cheias da minha infância às minhas ilusões – e, eu não me canso de sonhar! -. E não vou parar de o fazer. Mesmo que isso me faça caminhar na direcção cada vez mais oposta da tua, porque achas que a queda que se segue sempre a um grande devaneio é demasiado grande. Mas eu sei que o sonho que antecede a queda vale a pena. Tu só – ainda – não o sabes.

15.09.2007

17 setembro 2007



Hoje vou olhar para o horizonte. E vou esperar ainda hoje por ti. Embora saiba que não regressas e que me tenhas dado muito mais do que aquilo que posso saber, e embora saiba que já não devo esperar por ti, ainda assim hoje vou olhar para o longe e vou esperar ver a tua imagem recortada lá ao longe a caminhar em direcção a mim. E vou aguardar regressar ao teu olhar, ao fim dele, e ver-me de novo nos teus olhos e aí sim, sem dúvida reencontrar-me na ponta dos teus dedos, depois no teu corpo e no fim, sempre no fim, logo a seguir à tua boca, na tua alma. Aquela que vejo reflectida nos teus olhos mesmo ali por cima do meu reflexo. Hoje vou esperar por ti e vou olhar o horizonte, sem dúvida, hoje vou fazê-lo porque hoje sei que o tempo faz parte de mim, de nós, como um verbo que não é conjugado - nem - no passado e apenas no presente. Nem sequer no futuro. Talvez hoje eu saiba que não venhas, também, mas, talvez o sonho me traga o teu olhar de novo para me reencontrar.

5.09.2007

Quando era jovem e inconsequente pensei que as madrugadas seriam sempre minhas. E pensei ter por certo as gargalhadas, os gestos de carinho, os sentidos alerta e a alma rasgada de amor e de vida e de ti e do mundo, sem precisar morrer por ter chegado ao fim de nós. Afinal descobri que os dias não passam de milhares de relógios que não param, e os dias não são nossos, nem teus, muito menos meus. E fiquei assim, dilacerada, por ter perdido o princípio, o meio e só ter dado por falta dele quando cheguei ao fim, assim, dolorosamente vergada e morta sem realmente ter tido o que tinha tomado por certo na vida.

5.09.2007

14 setembro 2007

O nosso companheiro de noites mal dormidas, posa para a fotografia...




Deito a língua de fora, mostrando bem a minha excelente boa disposição!


Obrigada a todos pelo carinho excepcional, agora já em casa, a recuperar, aguardamos os próximos passos.
Beijos

10 setembro 2007



Olha-me nos olhos e enche-me a alma de vida e de ti. Enche-me os olhos da sede de viver, outra vez. Sabes que apenas tu o podes fazer. Ambos sabemos que não passamos de segundos na vida um do outro, mas que um sem o outro não poderemos continuar a seguir em frente e nos afundamos sem amarras. Sabes que preciso de ti e que tu precisas de mim. Preciso de te olhar e preciso do teu olhar para me encher a alma de vida. E só assim poderei voltar a navegar e apenas assim poderás voltar a voar. Depois da tua partida, as lágrimas que chorei vieram todas com o teu nome sobre os meus lábios. E aqui, assim, perdida junto ao mar, a bater contra as rochas, sem âncora que me prenda a um chão firme sei que já não é o amor que nos faz seguir em frente e aguardamos apenas a mentira que nos faça naufragar. Tenho tantas saudades de ti. E sei que também as tens minhas. Recordas-te dos meus braços? Da forma que enchíamos a cama cheia de nós? E agora que a mentira nos encheu da indiferença – que só ela pode dar – aguardamos que o mar nos leve.

5.09.2007

08 setembro 2007



Medi todos os milímetros que medeiam a tua boca. De um canto ao outro. Sei ao que sabem, sei que toque têm, sei todas as formas dos teus sorrisos, das tuas amarguras, tristezas e sabores. Cada prega, ruga, sinal, pele e pêlo, reconheço-os a todos e quero-os de novo na minha boca, ao alcance da minha mão, para que reconheça a tua pele como sua, como se te tratasses apenas de uma extensão de mim.

Nem sempre o coração bate acelerado. Nem sempre fecho os olhos quando finges abraçar-me com a cabeça noutro lado. Mas por vezes ainda fingimos.

5.09.2007

07 setembro 2007



Sinto saudades do teu corpo no meu. Sei que esta noite me vais procurar. Mas também sei que já não terás o ardor de antigamente. E que o teu hálito agora lembra mais o fundo de uma garrafa à muito esquecida no chão do que antes em que me sabias a mentol e a cigarros frescos. Mas hoje não me importa. Hoje estou nostálgica e sabes que nestes dias assim, cheios de lembranças só me sacio quando possuo o teu corpo em memória dos velhos tempos. Como se ele ainda se me pudesse substituir a falta que a imagem que me colei de ti aos olhos me faz todos os dias do resto da minha vida. És tu mas não o és.

5.09.2007

06 setembro 2007



Vou-te pedir pela última vez. Não me procures. Diz-me adeus de uma vez só. Não rasgues pedaço a pedaço a minha alma. Devolve-me de uma vez por todas todo o amor que me prometeste um dia ser apenas meu. Devolve-me de uma vez por todas, todas as lágrimas, todas as ternuras, todas as canções tocadas a dois pares de mãos, devolve-me o hálito fresco que me davas todas as noites, e fica de uma vez por todas com as lágrimas de raiva, de frustração, de dor, de saudade e de mágoa que me deste assim de bandeja sem olhares para trás. Ofereço-te, eu, os soluços que me sacodem todas as noites antes de dormir, e também aqueles com que acordo todas as manhãs ao dar pela tua falta, ainda. Entrego-te também a tristeza que me deixaste na almofada, ali assim, plantada, assim, tão abandonada e só, que julguei nem sequer ser para mim. Devolve-me o sorriso franco e aberto, a mão fácil e leve sempre estendida para todos, o olhar franco e aberto sempre dirigido ao céu. Devolve-mos todos e depois libertar-te-ei do jugo da minha sombra que te segue todos os dias até que possa ser eu de novo e me devolvas todas as promessas que quebraste, inteiras. Como asas de anjos esvoaçantes. Em vidro. Inteiras. E não quebradas.

13.08.2007

05 setembro 2007



Acordei esta manhã. E tu não estavas. Nunca estás, ultimamente. Fiquei assim, cheia deste vazio, sem conseguir revelar o que sinto, o que penso sequer à sombra deste silêncio que me enche e me oprime. Oiço uma chave. Tenho a certeza que serás tu a abrir a porta que se abre para te trazer de volta para mim, para os meus braços, para os meus sentidos, para me inebriares de novo, e de novo encher-me a vida e a alma. Corri para a porta mas do lado de lá não está ninguém, abri e fechei-a inúmeras vezes, com a sensação de que talvez, brincando contigo, fingisses estar escondido atrás do vão de escadas seguinte. Mas não. Não estás. Já nem o teu cheiro me enche as narinas. Em sitio nenhum. Nem no quarto, e muito menos no resto da casa. Já nem quando abro o teu livro favorito se me toma de assalto, as narinas, preenchidas, subitamente pelo teu cheiro, ali abandonado, sem que eu soubesse sequer da tua, e da sua, presença. Alisei os lençóis que hão-de receber o meu corpo esta noite. Também os estiquei bem do teu lado, na esperança que esta noite o teu corpo volte a vincar o colchão e volte a enrugar o teu lado. Se não voltares a encher-me a cama da tua presença, aquela figura ambígua, que tanto está como já esteve, como hei-de sobreviver?

13.08.2007

04 setembro 2007


Regresso.
Ázafama do dia a dia, que me faz tombar no primeiro embate.
Promblemas, problemas, problemas, problemas.
Alegria por tudo poder ser resolvido a seu tempo.
Saudades do céu azul que me tapou nos últimos dias, mesmo naqueles em que não se via e fiquei deitada na areia à beira mar, de olhos fechados a ouvir o mar e os gritos das crianças a brincar, ou de olhos abertos a ouvir o mar e a ver o céu - ainda com os gritos das crianças.
Descobri nestes dias que as crianças crescem a um ritmo estonteante, que já não são bem crianças, estão cada vez mais independentes (mas felizes) e eu não quero que o tempo continue a correr para os poder ter ainda no colo mais tempo. Os beijos lambuzados e a cama cheia nas manhãs de todos os dias começam a escassear.

Mas estão felizes.

4.09.2007