31 agosto 2006


Lembras-te quando chegavas e tocavas à campainha?
Eu sabia já que lá estavas do outro lado da porta…
Lembraste quando me despias antes de chegar sequer à cama?
Em que os lençóis serviam apenas para emoldurar os corpos em actos de profanada sensualidade?
Lembras-te de nós na cama?
Lembras-te de nós, depois de nos entregarmos, oferecermos tudo o que existia em nós e nas palavras que trocavamos, apenas com um olhar?
E as lágrimas que te dava quase todas as vezes que eu fazia amor contigo?
E todas as vezes que me juraste em que não me amavas? Em que era só a tua estrelinha?
E que no teu coração haveria sempre lugar para mim?
Recordaste?
O teu coração perdeu-me… ou foste tu que o perdeste?

26.08.2006

30 agosto 2006


- Olá como vais?
- Ainda te lembras de mim?
- Espero que estejas bem.
- Espero que tudo te esteja a correr bem.
- Espero que sejas feliz.
- Eu também estou bem, obrigada.
- Sim, ainda tenho saudades tuas. Muitas saudades tuas.
- Ainda sinto falta de te fazer feliz.
- Se te pudesse dizer, diria, vem, volta para perto de mim, deixa-me abraçar-te, dizer-te que te amo.
- Só preciso de saber que estás bem.
- Mas sei que estás feliz, e que não precisas da minha alegria.
- Bastou-me ter roubado a felicidade ao teu lado durante algum tempo. Durante todos os segundos, minutos e algumas horas que estive ao teu lado.
- Roubei a felicidade…sim, roubei-a.
- Porque nunca estive destinada a ser feliz ao teu lado, nunca estive destinada a estar na tua vida.
- Não, não sei se foi por isso que não ficamos juntos.
- Mas sei que a sede de te amar não passa, não consigo dormir sempre bem, não consigo respirar sempre bem.
- Mas basta-me saber que estás bem.
- Então adeus. Espero que sejas feliz. Até qualquer dia.

28.08.2006

Vem. Vem de uma vez por todas e faz-me tua para sempre.
Deixa-me penetrar na tua pele, ser a tua cútis.
Deixa-me ser a água do teu banho e absorve-me enquanto relaxas as tuas fadigas diárias no fundo da água transparente.
Deixa-me ser o teu suor, as tuas lágrimas, o teu sémen e apenas fazer parte do teu corpo.
Estar e ficar. Nele. Sempre.
Porque é o meu único local sagrado.
Aquele onde posso ficar. Amar.
É o meu lar. O lugar onde chego.
Onde ficas a minha guarida.
Onde descanso, repouso, durmo, apenas tranquila.
Onde baixo as armas, os braços, as pernas e me sinto protegida.
Porque tu, às vezes, só às vezes, és nada mais que um lugar de paz e o meu paraíso de calmaria, onde não me chegam os gritos e a raiva de todos os dias.
Onde não existem nada mais que o som do silêncio adormecido e a música dos amantes.
Tu és o meu lugar. Aquele onde as palavras são ditas com o olhar.
Aquele onde o amor vem dos gestos.
Aquele onde o silêncio não fere.
Apenas tu. Sem a luz que me magoa o olhar.
Apenas tu que me enches do mar que me traz a tranquilidade.
Tu.
O inicio de um novo dia.

14.08.2006

29 agosto 2006


Não tiveste a consciência que todo o teu rancor destruiu o meu amor.
Uma vez disseste-me que quem não ama não faz a outra pessoa feliz.
Enganas-te. Enganaste tanto.
Ninguém pode viver assim, com receio do humor, com pavor da violência, da falta do sorriso. Ninguém suporta acordar e não saber o que a espera nesse dia.
Foste tudo para mim.
Sei que um dia te prometi nunca desistir e caminhar sempre todos os teus caminhos até ao fim dos meus dias.
Mas não consigo, já. Não suporto, já, tentar entrar nesse reino de tirania que és tu.
Não posso mais. Não consigo viver assim.
Desisto de te caminhar agora, aqui, já.
Mesmo que isso implique deixar de viver. Desistir de tudo e de todos. Não te consigo entender. E tu não te esforças nem um milímetro para me alcançares.
Deixo a nossa praia.
Deixo os nossos sonhos.
Alguma vez os sonhaste mesmo comigo?

26.08.2006

Hoje conclui apenas que sou apenas uma pequeníssima partícula deste universo gigantesco.
Não hoje, mas hoje mais ainda.
O que ainda faz doer mais, e não doer apenas menos.
Ainda tantos sítios para visitar no mundo. E eu nunca os verei.
Ainda tantas linhas de tantos livros fantásticos para ler aonde nunca descansarei a vista.
Ainda tantos metros de filmes maravilhosos para ver, e rever, nos quais não terei tempo para me imaginar heroína.
Sobra-me por vezes o tempo. Falta-me por vezes o querer a sério.
Mas falta-me sempre sobretudo a forma de o fazer.

Mas não me deixes, apenas, deixar de olhar o céu azul.
Continuarei a não ser nada.
Mas terei já muito.

25.08.2006

28 agosto 2006


Os meus sonhos vão buscar as coisas que estão longe, embora o medo cada vez vá gritando cada vez mais alto o medo que tenho de sofrer.
E se fosse apenas isso, o medo, a coisa seguiria bem, feliz e até, quase, segura… Mas não.
Logo de seguida vem a alma, o espírito, o corpo, a mente e o pensamento fazer-me avaliar, pesar e medir os porquês, os porque não, os porque sins, os porque talvez, bem como os nãos, os sins… e faz-me cada vez mais ficar com medo.
E não consigo concluir nada.
Que saudades de quando era pequenina e achava apenas que mudaria o mundo, porque mudaria…
E qualquer colo saberia sempre a mar e qualquer música tinha o som de estrelas caídas no nosso amor.
E o mundo era apenas um lugar de acreditar.
E o mundo era apenas um lugar onde todos poderíamos vier a ser felizes. Sempre felizes.
Quem me dera ser outra vez pequenina.
Quem me dera outra vez, apenas acreditar.

26.08.2006

27 agosto 2006

Admite.
Tu não passas de uma menina mimada e sonhadora.
E agora que cresceste queres-te manter como, ainda, menina. Mas cresceste.
E a vida também te trouxe dissabores, tristezas, dores e mágoas a ti.
Embora não as queiras carregar.
A tua vida cor-de-rosa, lilás e azul, cor de céu e ilusões, não passaram apenas de sonhos sobre sonhos.
O sonho comanda a vida, dizia o poeta, dizes-me tu, constantemente.
Acorda das ilusões em que vives todos os dias.
Vive a vida.
Vive o dia a dia.
Sente o que sentes, explica-me a realidade.
Não os teus sonhos, o que gostarias que acontecesse.
Olha para lá da janela do teu quarto, se saíres e viveres a vida de todas as outras pessoas, morrerias. Não irias aguentar a loucura do dia a dia.
Fazes por esquecer que existe essa vida, que existe a vida para além dos teus sonhos.
E deixas-te afundar nessa imensidão de ilusões, não querendo ver a lucidez da realidade.
Pensas que se tiveres essa atitude, a névoa, o nevoeiro, os dias enublados vão passar.
Que não precisas de os viver.
Não existe só preto e branco.
Tu sabes disso.
Sabes dentro do teu peito, na tua alma, no teu espírito, na tua carne, em todos os centímetros do teu corpo.
E nas tuas lágrimas.
Mas continuas a puxar os teus sonhos atrás de ti.
Para não admitires que vives apenas num mundo cinzento em que todos somos descartáveis. E ninguém é imprescindível.
Fazes por esquecer essa realidade, que não admites, mas que reconheces como verdadeira.
Arrastas as tuas ilusões os teus sonhos atrás como se da tua vida se tratassem, mas não o são.
São apenas o que te faz ficar sempre para trás.
Cada vez mais para trás.
Até que um dia todos te esquecemos.
15.08.2006

26 agosto 2006


Somos actores numa peça de teatro.
Numa peça de teatro de mau gosto e de péssima qualidade.
Tu vestes-te de poder, cheio de boas intenções e argumentas todos os dias comigo com a tua lógica insensível.
Eu pinto-me todos os dias da distância de ti, para poder sobreviver mais um dia. Maquilho-me de fingimento.
Vendo o meu corpo todos os dias da minha vida em troca de um pouco de segurança.
Segurança que tu não me dás.
Segurança que eu não te dou.
E a peça decorre.
E quando o pano desce, cai, finalmente, ambos continuamos a olhar um para o outro, vazios de realidades, e continuamos a fingir.
E não temos mais nada, senão palavras arremessadas um ao outro com raiva e desamor.
Porque não ficamos por aqui?
Por medo do que vamos encontrar depois?
Qualquer coisa será sempre melhor que esta dor lancinante e constante com que deparamos todos os dias das nossas vidas.
E a peça também está na altura de sair de cena.
O público fartou-se.

18.08.2006

25 agosto 2006


Porque insistimos tanto em continuar com uma coisa que já nos morreu entre as mãos?
Já passamos para lá de todos os limites possíveis e suportáveis.
Deixa-me sair da tua vida de uma vez por todas, dentro das possibilidades do para sempre.
Adeus.
Diz-me adeus.
25.08.2006

A desilusão é uma bola de neve, que ao descer as colinas das nossas vidas aumenta irredutivelmente de tamanho, largura e diâmetro. Até nos esmagar.
E esmagou-me.
A desilusão não deixa espaço para manobras de encantamento, não deixa espaço para sarar as velhas mágoas.
E desta vez foste longe demais.
O tempo encarregar-se-á de te fazer ver e sentir na própria pele o sofrimento que causaste à tua volta.
Não passas da desilusão da minha vida.
Não vales as lágrimas e todos os corações que me destroçaste ao longo de todos estes anos.
A tua beleza é apenas exterior. Os anos vão apagá-la.
E no fim apenas vai ser aquilo que sempre foste, mas poucas conseguimos ver.
Uma desilusão.
És uma desilusão.

22.08.2006

24 agosto 2006


Olá. Olá meu querido e doce amor. Olá meu lindo Rei de todos os mares, navegados por mim e por outros. Olá Principezinho que habita o meu coração.
Esta carta serve apenas para te desejar um bom dia. Hoje, agora que o dia está a nascer, com uma breve brisa do final de Agosto que está a chegar.
E eu estou aqui à espera de alguma coisa.
Uma coisa que sei que não acontecerá. Simplesmente não acontece.
Tento manter-me colada à tua vida. Mas é indiferente o que faço ou deixo de fazer. Não faço parte dela. Por mais que me esforce. Tu não dás pela minha presença.
Mas ainda assim tento lá estar. Mesmo que tu não me vejas, não me sintas.
E nunca reparaste, pois não?, que aproveito todas as oportunidades para te tocar?
E nunca reparaste em todas as vezes que aproveitei as circunstancias para te por a mão no ombro, na perna, na mão, na cara?
Como se fosse uma coisa natural… mas era apenas o desejo de sentir o teu calor, a tua pele na minha a impelir-me para ir mais além.
Esta carta não tem qualquer intuito.
Não sabes quem sou. Não me reconheces no tom da voz na pele bronzeada, nem na chuva de Verão, e não sentes o meu perfume na brisa da manhã, quando abres o vidro do teu carro.
Não sentes o meu cheiro na tua cama, quando te deitas à noite, cansado.
Mas nunca é demais dizer-to.
Posso sempre fazer-te sentir a pessoa mais linda do mundo.
Porque o meu amor é grande e é extenso.
Porque o meu coração tem espaço para ti e para toda a tua ausência.
Mas agora preciso que me vejas.
Esta madrugada preciso que me abraces.
Está demasiado frio. O Outono aproxima-se a passos largos e eu não quero estar só. Outra vez.
Beijos, beijos, beijos. Apenas beijos. Porque sabes já que todo o meu amor é teu. E o meu corpo. E toda eu.

19.08.2006

Estou exausta.
Exausta de não ouvir. Exausta de não dormir. Exausta de não te ter. Exausta de não descansar. Exausta de te partilhar. Exausta fisicamente. Exausta de não te abraçar. Exausta de ter o corpo dorido. Exausta de não te abraçar.
Exausta de não me amares.
Os dias sucedem-se. Não param. Nunca param. E tu não sentes a minha falta. Nunca sentes. E eu estou a cada dia mais destroçada.
Eu estar aqui ou não estar, para ti é completamente indiferente.
Posso dormir todas as noites no chão à tua espera, que não dás pelo meu corpo ali largado à porta, à tua espera.
Não queres saber.
Não me vês sequer.

Estou exausta de te ser invisível.

19.08.2006

22 agosto 2006

Não gosto de despedidas. Não gosto de mudanças.
Mas como reparaste, ao longo da minha vida, já foram tantas, as mudanças e as despedidas – qual delas em maior número? – que acabei por ser feita apenas de melancolia e de nostalgia.
Hoje dei-me conta que fui estrangeira em todas as casas que habitei, em toda a minha vida. O que significa, por isso, que ainda não reconheci o meu lar.
Constantemente a ver-me forçada a partir, a recomeçar noutro lugar, a peregrinar continuamente em busca de ideais.
Percorri tantos caminhos que hoje a minha lembrança não tem lugar para tantos deles.
Mais grave. De tanto me despedir, de tanto beijar chão que deixo para trás, as minhas raízes secaram e passaram a existir apenas na minha memória.
Porque não tenho um lugar palpável para repousar as minhas mágoas ao fim do dia, as minhas tristezas ao longo da noite e apenas partilhar os meus risos e as minhas vitórias para sempre.
As minhas raízes foram inventadas, porque as outras, à conta de tanto serem mudadas, morreram.
E eu nada pude fazer por isso.
Mas continuo a saber, sempre a saber, que a minha vida vai continuar a ser pejada de mudanças.
Pior. De despedidas.
Mas tenho a vaga, muito vaga mesmo, esperança, de encontrar um lar.
Aquele lugar onde poderei deitar cá para fora as minhas raízes inventadas.

15.08.2006

20 agosto 2006


Apenas sinto que todos os meus regressos são como os meus inicios... são recomeços sempre tristes e vazios.
Onde me perdi?
20.08.2006

19 agosto 2006


A redenção para mim chega sempre em silêncio.
Chega depois dos gritos, dos braços esticados para te evitar qualquer contacto físico.
Chega quando o silêncio se apodera de mim, e me envolve, tendo, então, tempo para pensar em todas as palavras ocas, e quase sempre vazias de sentido, que cuspi na tua direcção com o único e puro sentido de te magoar profundamente.
Mas preciso de o fazer.
Preciso de deitar fora toda a minha raiva e agonia, quando esta angústia gigantesca se apodera de mim, e me comanda os medos, as vontades e os sentidos.
Fico cega de raiva apenas.
E se não gritar tudo – quase – tudo, será como uma panela a chiar, baixinho… sem que tu sintas até ela te rebentar nas mãos, na cara e te destroçar por inteiro.
Depois, de tudo – quase – tudo, sair para fora, acalmo, e deixo-me envolver pelo silêncio, quando já dormes na cama ou apenas bateste com a porta para não mais me ouvires e olhares, e chego à redenção.
Mas as palavras são ocas.
Mas já as disse.
E também elas, ocas, muitas vezes, destroem e corroem.
E só a redenção, só ela…, não basta.
Nem o crescimento que ela traz.
Diminui. Mas não apaga os resultados.
Mas diminui.
A chegada da redenção.
Quando a noite me traz o silêncio, que os teus braços não me trouxeram.
A redenção.

13.08.2006

18 agosto 2006


Esta madrugada estavas na cama ao meu lado.
Quando estiquei os braços para percorrer as tuas costas, desapareceste.
Quando estiquei os braços para te abraçar, fugiste da minha visão.
Quando estiquei os braços para te tocar apenas, ficaste enublado na minha mente e a sensação do teu corpo não chegou ao meu cérebro.
Estás lá.
Apenas não te posso tocar.
Apenas isso.

17.08.2006

Sei porque sei apenas, que a vida não pára, mesmo quando eu desisto e deixo de caminhar.

Sei porque sei, que a vida, mesmo que eu páre de respirar e de viver, não vai parar, não se vai compadecer.
O mundo não pára.

E o mundo é cruel.

17.08.2006

15 agosto 2006


Já experimentei todo o tipo de solidão.
Aquela solidão em que estou rodeada de gente, e aquela solidão que se sente apenas sozinha.
Mas também já soube o que é estar acompanhada estando acompanhada. Rodeada de gente, ou apenas com uma pessoa que nos enche a vida e a solidão.
Mas também já senti a solidão meia acompanhada, ou a companhia meia solitária.
Não parece muito diferente, pois não?
Também não interessa descobrir-lhes as diferenças.
São apenas formas de solidão, maiores ou menores.
Todas feitas de solidão.
Forma maior de destruir a alma, o espírito, a vida e o corpo.
Tudo, aos poucos.
Dando-nos um pouco, que me é retirado mais à frente.
Mostrando-me sempre o quanto sou uma marioneta nesta vida, tão comandada pelos outros.
E tão pouco importante.
E tão pouco capitão das minhas areias, das minhas águas, das minhas tempestades e bonanças.
Apenas sou.
Solitária.

13.08.2006

As palavras são apenas palavras.
Muitas vezes ocas de sentido.
Têm latitude e altitude. Mas não têm tudo.
E têm o poder; de magoar, ofender, alvejar, distrair, medir, amar, sentir, amansar.
Mal ditas quebram os silêncios e preenchem os espaços entre nós de distâncias.
Bem ditas esvaziam os silêncios e unem-nos ainda mais.
Mas são palavras.
E por mais que as digas, hoje não me preenches os espaços, nem sequer de raivas ou de distâncias.
Por mais que não as digas, hoje, os silêncios são apenas silêncios, distancias por cumprir entre nós.
Espaço que já não poderão voltar a ser recapitulados.
Porque as palavras podem ser repetidas.
Mas os gestos. Os actos. Os olhares. Até os silêncios.
Não podem ser repetidos. Nunca mais.
E é aí nesse local onde as palavras são só palavras. Ocas de sentido.

8.08.2006

Assim poderás sempre partir.
Assim poderei sempre não voltar.
Beija-me, ama-me, vive-me, toca-me, seduz-me, lambe-me, acaricia-me, olha-me, mas deixa-me a alma intocada.
Podes fazer amor comigo.
Podes seduzir-me.
Nas noites de calor, sob o luar, ou sob a luz das estrelas podes amar-me e tocar-me em todos os atalhos que nos podem levar à loucura.
Nos dias de sol escaldante, sobre a areia ou sobre o mar, podes lamber-me e beijar-me a boca, os mamilos, a língua, o corpo todo teu naquela hora.
Em todas as horas podes acariciar-me na cama, no chão, no carro, no metro, onde tu quiseres, podes olhar-me toda apenas tua.
Vive-me sempre que me quiseres e deixa-me ser tua sempre que eu te quiser meu.
Sempre, sempre, terás o meu corpo, o meu amor, o meu sexo, a minha entrega. Enquanto ambos nos quisermos.
Mas deixa a minha alma intocada. Por favor.
Assim, poderás sempre partir, e eu poderei sempre não voltar.

11.08.2006

Os dias passam. As noites sucedem-se.
As semanas. Os meses. Os anos.
Mas não te esqueço, de alguma forma.
És como uma árvore secular de raízes profundas que não me deixa morrer.
E nem sempre.
Mas de quando em vez vens e recordas-me a falta que me fazes.
De vez em quando.
E olho e vejo bem a falta que me fazes em mim.
De vez em quando.
Apenas nos dias em que o sol brilha mais.
Apenas nos dias em que chove, ou que faz frio.
Apenas nos dias de nevoeiro.
Apenas em quase todos os dias.
E é por isso que te invento.
Nesses dias faço de conta que vais ao meu lado no carro. Que conduzes, mas que me dás a mão como sabes que gosto.
Levantas a perna e deixas-me por a palma da minha mão por baixo dela e avaliar-te o peso.
E invento-te nos dias em que me deito no sofá e faço de conta que lá estás comigo a partilhar o mesmo espaço, por baixo do mesmo edredão. De mãos dadas.
Sinto sempre a tua mão.
E confesso-te sempre em todos os meus monólogos a falta que te sinto.
E também te invento de manhã. Na cama, ainda, quando faço de conta que a tua presença é palpável na cama à distancia do meu braço dobrado, ao meu lado e sinto até o teu calor no lençol que partilhámos em mais uma noite de sonho.
E por vezes já não distingo bem o que inventei do que foi na realidade.
E já não sei se ensinaste a distinguir a estrela polar das outras ou se apenas o inventei.
Já não sei se me ensinaste a ver o prumo do horizonte e o azimute...
Ou se apenas o imaginei.
Mas o tempo não passa, e o tempo não amaina o que te sinto.
E não diminui, quase todos os dias o que sinto, e as palavras são escassas para traduzir o que não confesso a ninguém…
Que ainda te amo.
O teu silêncio tornou-se demasiado pesado, ensurdecedor até.
Magoa-me.
Mas não posso fazer nada mais.
Mas quem sabe, um dia, quando andares pela praia, que um dia foi a nossa, e estiveres com os pés enterrados na areia, a sonhar, olhando para um céu azul – a oferecer-te um sol a nascer – ou para um céu negro – a prometer uma noite de amor – quem sabe me recordes, e apanhes uma garrafa a navegar naquelas que foram as nossas águas e me leias ainda.
E o teu coração, encouraçado de betão, se te enterneça, ainda, mais uma vez, com as minhas palavras, que nunca te chegaram e me recordes ainda nos mais ínfimos pormenores.
Quem sabe nessa garrafa ainda te leve a cor do meu batom preferido, o cheiro do meu aroma predilecto.
E quem sabe, se diante do mar e do sol feches os olhos e recordes ainda mais uma vez o meu olhar, perene perante ti, o meu sorrir, em lábios que te dedicam o sorriso quase todos os dias.
Agora imagino-te a abraçar-me e abraço-te do mesmo modo que amava que o fizesses naqueles tempos de entrega, minha, a ti.
E imagino que te espero na cama, mais esta noite.
Tua, sempre tua.

13.08.2006

14 agosto 2006


O passado tem uma mania absoluta de me assaltar a memória, arrastando-a para lugares que já não recordava muito bem.
O passado chega ao presente trazendo-me pedaços do passado, enchendo-me a vida, as lembranças e o corpo de saudades.
Enche por vezes o futuro de esperanças, também.
Mas o problema do passado é que não sei nunca quando ele vai chegar para me levar em mais uma viagem. E acima de tudo não sei se essa viagem me vai levar aos pedaços da vida que passou e me marcou pela positiva ou pela negativa.
Mas leva-me sempre que quer e quando quer. Porque não o comando.
E é ai nas noites em que ele chega de mansinho e me enche as mãos e o corpo de saudades tuas.
E é ai quando ele enche a cama, o quarto e a memória da tua falta.
É sempre à noite que ele chega, pelo menos para mim.
E é sempre à noite que acabo por te sentir a falta.
Porque a memória apenas me traz o vazio das tuas carícias, que não tenho agora. A noite apenas me traz a falta dos teus sussurros, das tuas mãos e da tua língua maliciosa que me enchia de soberba.
E não paro de recordar as conversas, as noites pendurados à janela a ver as luas profundamente cheias, como nesta noite.
E não me detenho quando penso na nossa praia ao fim do dia, quando o sol vai iluminar o outro lado do mundo.
E eu de pés enterrados, bem fundo na areia.
E era assim que a vida nos devia ter deixado na vida um do outro.
Mas o presente daquela altura não foi isso que nos destinou.
E hoje recordo o passado que tivemos juntos.
E encho as noites de suspiros, de memórias e lembranças de afectos perdidos nas noites cheias de solidão agora.
Vem encher-me também os dias…

11.08.2006

Faz de conta.
Faz de conta que nunca me viste, que nunca me tiveste, que nunca me tiveste entre os teus braços e por entre as tuas pernas nem deleitada pelo teu corpo.
Faz de conta que nunca me conheceste, que nunca me beijaste e que nunca me possuíste.
E agora finge.
Finge que me viste pela primeira vez na rua, onde te cruzas comigo. Finge que foi pela primeira vez.
Finge que me escolheste para ser tua, esta noite.
Finge que me amaste pela primeira vez, toda e totalmente.
Finge que me beijaste pela primeira vez e os teus lábios encontraste em mim.
Finge que ao veres o meu corpo nu, tapaste a tua nudez com a minha pele, e me fizeste tua, fazendo-te meu.
Finge que ao me dares as mãos e os braços, as pernas e a língua te perdeste em mim e percorreste os meus longos e curtos caminhos à tua procura.
Finge que te encontraste em mim. E finge que foste feliz.
Finge… finge que sem mais delongas me escolheste só a mim, finge que sou a única para ti.
Finge que sou a tua vida.
Finge que hoje me escolheste e é a nossa última oportunidade.
Finge.

13.08.2006

Acentuado Esquecimento Nocturno

Amor,
não sei quem és, nunca te vi,
mas meu coração hibernará
para que o teu o escute,
e nos gomos destes lábios
não hão-de poisar palavras
até os teus beberem da sua sede.
E batalharei pelo que só
em teus olhos haverá,
E não te deixarei ceifar o riso
às aves clandestinas
que finges antes de adormeceres.
E se não vieres nem tarde,
e se por um lunário qualquer
eu medir pulsos à vida
e nela houver um
Acentuado Esquecimento Nocturno, –
Amor,
não sei quem és, jamais te vi,
mas não me libertarei
nem da química lágrima
nem da chuva ácida
nem do teu olhar.

In “ A Oeste deste Céu” de João de Mancelos

Guarda-me num pedaço, num canto, num recanto da tua mão fechada. Leva-me para onde fores, protege-me como se da tua própria felicidade se tratasse.
Guarda-me lá, junto da tua pele, no teu cheiro, diluída na tua pele, até quase fazer parte de ti, e não mais me distinguires do teu tom, da tua forma.
Até que deixem todos de me saber, de me reconhecer, sabendo-me perdida até das minhas angústias que de ti fugirão.
E depois, quando já nem tu me souberes distinguir e eu me sentir perdida a fazer parte de ti, pois apenas tua me saberei.
Porque em ti me encontro amante de amores e vidas, achada para sempre na tua vida.

13.08.2006

13 agosto 2006


Sabes que o meu coração ainda te chama?
Sabes que o meu corpo ainda te reclama?
Mas tu não respondes… acho até que nunca deste por mim, aqui só ao teu lado. Só eu o sei.
Daqui a um bilião, e outro bilião de anos noutras encarnações será que me vais recordar?
Quando te cruzares comigo numa fracção da tua vida vais sentir as minhas mãos a passear pela tua face enquanto dormias?
Vais sentir, finalmente, o meu olhar, durante as noites em que dormias ancorado na calmaria dos meus braços, e eu apenas te olhava, para te velar o sono?
Será que alguma vez vais sentir o meu olhar, o meu pensar, alguma vez me vais ler, em tantas horas infinitas que te dediquei?
Sabes que o meu coração ainda te chora?
Mas ninguém o sabe. Tu muito menos.
Só eu o sei.

13.08.2006

A primeira vítima.
A primeira vítima foi a inocência.
Depois, a partir daí… foi sempre a destruir, a decair, a partir. A quebrar.
A inocência foi a primeira coisa que me tiraste.
A inocência de acreditar, de ver, de sonhar.
Naquela noite, em que o teu bafo, etilizado, me preencheu a boca e o corpo, em que as tuas mãos violaram os meus recantos, deixou marcas que ainda me povoam as noites e os dias de pesadelos.
E com o passar dos anos, fui acreditando cada vez mais e sempre em maior escala que a culpa teria sido quase até minha…
E por isso fui perdendo a capacidade de me abstrair, saltar do meu corpo para fora e divagar nos sonhos que antes me tinham dado o mundo aos meus pés.
Até que um dia me senti enclausurada e completamente encerrada num corpo que não deveria ser o meu, numa alma que não aparentava ser a minha.
Domada. Inevitavelmente domada.

Sem sonhos.
Sem a inocência.

06.08.2006

Hoje chego a duvidar que alguma vez tenha conhecido o amor ao teu lado.
Hoje, quando me olhas, como se não me conhecesses, como se nunca me tivesses tomado o ar, a vida, o amor e a paixão, como se a tua pulsação e o teu corpo não tivessem já repousado em mim.
Hoje duvido que todas as memórias que partilho do teu corpo, da tua vida, das nossas recordações tenham sido verdadeiras.
Hoje duvido que aquilo que recordo seja verdadeiro.
Não passam de uma simples especulação que a minha própria vontade de me manter sã num mundo doloroso arranjaram.
Todas as memórias não passam de simples extensões dos sonhos que tive nas noites em que te partilhava com outras memórias apenas tuas. Verdadeiras.
E por isso, por tanta mentira, o meu coração deixou de bater, deixou de latejar. Deixou de viver.
E deixou de acreditar.
E agora sigo em frente, num mundo doloroso em que as memórias não passam de falsidades da minha própria cabeça, numa esperança de me manter saudável.
E tu?
Tu continuas a viver. Feliz. Incólume.
Como se eu nunca tivesse existido.
Como se eu nunca te tivesse tocado.
Porque nunca te toquei, tal como as noites de perfeita sintonia também nunca existiram, pois não?

07.08.2006

11 agosto 2006


Também tu és um Principezinho e que tens a rosa especial para cuidar.
Todos somos Principezinhos.
Mas para a encontrares tens de olhar à tua volta com cuidado e com atenção.
Para não correres o risco de passares pela rosa e não dares conta da sua presença.
Olha com atenção.
Segue o teu coração.
11.08.2006

Hoje vi-te a andar, mesmo à minha frente, sem camisa, com aquele teu tronco queimado do sol, cor de caramelo, quando ainda não é bem caramelo.
E apeteceu-me.
Apeteceu-me beijar-te as costas suadas, saber a que sabe o teu sabor.
Apeteceu-me despir.
E dar-te o meu corpo.
Dividir contigo a minha ânsia de dar prazer, a minha necessidade de te fazer feliz.
Queria enrolar-te as pernas à cintura, e, sentados no chão, até nos fazermos um do outro.
E saber, sentindo ao que sabe o teu sabor.

27.07.2006

Hoje escrevo-te.
Escrevo-te para te dizer que não te guardo rancores.
Guardei-te nos mais lindos e inacessíveis e remotos locais das minhas lembranças, memórias e recordações, num baú escondido do meu coração.
Mas escrevo-te para te dizer que não existem rancores.
Todas as lágrimas secas e molhadas que me correram pelas faces e pelo corpo, secaram ou molharam a terra.
Enxutas pela mão ou apenas secas pelo vento.
Traçaram um caminho à muito percorrido por outras que as antecederam.
Não foste diferente de todos os que caminharam o meu corpo e a minha vida.
Porque hoje, enquanto te escrevo esta carta de quem não guarda rancores, apercebi-me finalmente que o amor tem sempre duas faces, tem sempre dois lados. Ou até mais.
E o amor nunca é puro. E por isso morre, lentamente. Como o meu.
Como assim também foi com o teu.
Não fui mais que uma, na altura a única.
Não fui mais que um estar. Não fui mais que um viver.
Na altura a melhor.
Mas a que não fica.
Como tantas outras.
Mas o sabor do teu hálito ainda não me deixou por completo. E nalgumas noites ainda acordo com o teu respirar no meu lóbulo. No meu pescoço. E só paro de te sentir quando o estremecimento passa para lá das coxas.
És como um tiro. Um pequeno gozo que nos demos em tempos que já lá vão.
Tu és a alma que não fica. És como a brisa que sopra aqui e já está lá adiante.
E por isso não me vou mais perguntar, interrogar, questionar o porquê do teu abandono. Do teu não querer.
Mais.
Não mais te vou procurar. Perseguir. Assombrar. Relembrar do meu querer.
Os meus rancores secaram à medida que a tinta vai secando nesta carta.
Não mereces a pena.
Vou-te recordar apenas no que mereces a pena ser recordado. Em mim. No meu amor. Na minha necessidade de amar.
Em tudo o resto te vou apagar. Diluir na água.
E um dia, serás apenas uma lembrança de uma coisa boa e agradável, como todas as outras que vamos deixando para trás ao longo da vida.
E até terei saudades.
Permitir-me-ei ter saudades. De ti.

07.08.2006

08 agosto 2006

A OESTE DESTE CÉU

Não cresças, menina, não -

Hás-de estudar a dor
da primeira ave ferida,
e hão-de vir fuzilar
a tua boneca favorita,

Hão-de quebrar-te o céu dos lábios,
ensinar-te a ser alguém,
até lento vir o abraço de ninguém
dos frios muros de ninguém,

Crucificar-te os ídolos
na mais louca das árvores,
enraivecer-te as noites,
os sonhos e as tardes.

Não cresças, menina, não -
Que a Oeste destas aves,
ser criança é mais Verão.

In "A Oeste deste Céu" de João Mancelos

Fecha os olhos.
Faz um desejo.
Hoje serei tua. Apenas tua.
Não vou duvidar. Não vou mudar de ideias.
Hoje vou ser apenas tua, enquanto me quiseres, num momento que vai ser nosso, sempre nosso, apenas nosso.
Tu e eu.
Um momento sólido de perfeita sintonia.
Como naquele abraço que me dás nas chegadas das longas ausências, mas em que me sabes guardada no teu coração.
Como naquele olhar quando partes de novo, mas em que te sei minha.
O amor tem tantas faces.
O amor tem tantas caras.
E nós somos apenas mais uma.
E assim como tanto céu, e assim como tanto mar… sei que estarás sempre.
Longe ou perto, mas sempre.
E no meu coração saberei que estás lá.
E que eu estou no teu.
Diz-me a chuva, diz-me o vento.
Ensinou-me a vida.
Já te disse hoje que és a fada mais linda de todas?

8.08.2006

07 agosto 2006


O meu amor é como uma flor.
O meu amor é como uma pequena flor.
De tanto sol, ventania, gelo, frio mantém-se pequena e incapaz de crescer.
Mas não morre.
Não desiste.
Porque a esperança é como uma raiz.

07.08.2006

Esta madrugada sonhei.
Sonhei que me tinha perdido e que já não recordava os meus sonhos.
As minhas ilusões.
Já não recordava a que cheiravam elas e a que sabiam elas.
Pela madrugada fora procurei-as em gavetas cheias de memórias mas não me reconheci em nenhuma delas.
Na manhã emergente, procurei-me em caixas de recordações mas não me achei dentro, ou fora, de alguma delas.
Perdi-me.
E perdi a melhor parte de mim.
Aquela que se constrói nos anos de acreditar e de sonhar.
A pessoa que fui, ficou algures na memória de alguém, que de tanto me magoar me fez desvanecer.
Ou fui eu, que simplesmente deixei de acreditar?
E que num momento de perfeita loucura deitei fora os sonhos e as ilusões, construídos em tantas noites, e dias, de simplesmente acreditar.
Era: “Um dia será…”
Agora é apenas: “Aquilo que tiver de ser”.

06.07.2006

06 agosto 2006


Uma carta a um amor desenganado e desconhecido, que nunca, e ainda, se deu a conhecer…

Leva-me pela mão nesta noite cheia de estrelas e de luas quase cheias.
Acende um incenso e faz amor comigo à luz de velas.
Desenha o teu desejo no meu corpo, e deixa-me mostrar-te os caminhos onde me tens no paraíso.
Depois senta-te comigo, de calças arregaçadas, com os pés dentro de água.
Porque o teu sorriso sabe-me a mar. Sempre me soube a mar, desde o primeiro dia em que ainda não te vi.
Apenas te imaginei.
Sem sons. Sem palavras.
Porque as palavras são ditas pelos nossos silêncios.
E elas levam-nos aos melhores locais para nos termos.
E nos nossos silêncios as palavras que não são ditas dizem-nos tudo. E lá no cume do nosso silêncio, os nossos olhares fazem acreditar, mais uma vez, que ainda é possível.
Que duas almas ainda se podem escrever uma na outra.
E vamos deixar… deixar que os nossos silêncios divaguem pelos paraísos perdidos dos nossos sonhos, e aí, ao pôr-do-sol, voltaremos a acreditar.
Porque tu és como uma carta de um velho amor… à deriva num mar que sempre, tempos a tempos, desagua na minha praia.
Reconhecendo como quase sua cada um dos meus grãos de areia que envolves na tua humidade permanente e possante. Todas as gotas de água que eu conheço e quase me parecem minhas.
Também.
Já nos conhecemos os silêncios.
Mas nunca fomos um do outro.
Õ que nos liga é a estranha sensação que já foste meu e que já me tomaste como tua, e correndo a vida o que correr, dando o relógio as 24 voltas para que cada dia passe, seja dia ou seja noite, do outro lado do planeta… voltarás a ser meu.
E voltarás a tomar-me como tua.

5.08.2006

Alivia-me apenas hoje do peso da minha solidão.
6.08.2006

Ode aos meus amigos

Alguém me disse que olho para trás.
É verdade. Levo o tempo a olhar sobre o ombro. A ver se deixei algo esquecido para trás.
E, dizem alguns, que por isso a minha vida não avança.
Mas a minha vida não avança porque ainda não teve que avançar, ou apenas porque anda a passo de caracol… ou de tartaruga. Tão devagar que se torna imperceptível aos olhos de todos nós.
Mas na realidade…eu sofro por amores que não são o que pretendo, sofro por amores que não crescem à medida dos meus sonhos… mas a verdade mais verdadeira é apenas uma… embora não tenha um príncipe encantado a bater na janela da torre mais alta para me salvar no seu cavalo alado, e me tenha deparado com uma longa sucessão de sapos engalanados, ou com uma simples falta de vista que me leva a confundir os sapos mais simples com sapos encantados, tenho uma riqueza que não pode nunca ser esquecida.
Os meus amigos que estão sempre ao meu lado.
Mesmo quando eu não os quero ver.
Mesmo quando eu os ignoro.
Mesmo quando eu faço de conta que estou fechada numa redoma inacessível para tudo e todos.
Mas eles existem.
E afinal… o olhar para trás talvez não seja tanto para ver se a história de amor ainda não acabou, mas no sentido de ver se algum ficou para trás. Porque quando caio, porque a rede de segurança não estava lá, mas insisti em correr o risco, foram eles que lá estiveram para me amparar na queda e voltaram a reerguer-me.
Só por isso vale a pena olhar sempre para trás.

05.08.2006

05 agosto 2006


Beijar a tua boca doce. Doce de algodão doce.
Dizer-te que te amo com o corpo ofegante.
Escrever-te na alma o desejo que pulsa em mim.
Marcar-te a ferro e fogo a ansiedade de te ter.
Deixar-nos a pulsar um no outro.
Quando o desejo e ambos os corpos se sentirem satisfeitos.


5.08.2006

Ambos.
Os dois.
Não passamos de duas almas à procura da utopia da felicidade eterna. Mas nenhum dos dois ainda percebeu que a verdadeira alegria, a partilha, a felicidade, a verdade do amor está na subida.
Não na chegada ao cume da montanha.
Nem na chegada ao vale.
O que conta é a caminhada.
Nós os dois andamos perdidos, como se nadássemos em mares distantes um do outro.
Na ânsia de provar que o outro está errado… passamos por cima um do outro, atropelando-nos vezes sem conta, sem importar os estragos que isso causa.
Os nossos valores foram violados demasiadas vezes, o respeito mútuo quebrado com frequência.
E agora o que nos resta?

5.08.2006

03 agosto 2006


A mágoa de te saber fora da minha vida.
A tristeza de não te saber meu.
O pranto que não partilho por não ser feliz.
A infelicidade de não te ter.
A necessidade de te amar.
A recusa de te libertar, definitivamente.
A negação da tua ausência.
A ansiedade de te ter só mais uma vez.

A urgência de me saber apenas tua.

27.07.2006

02 agosto 2006


Hoje querias partir, finalmente… mas peço-te… não partas hoje. Não hoje que ainda não tenho as palavras adequadas, para além de que não estou vestida a preceito para me recordares um dia mais tarde, não tenho ainda as palavras adequadas para me despedir de ti.
Deixa-me antes encontrar a forma – ideal –, e o tom – perfeito –, a maneira – certa – para te dizer calmamente, adeus.
- “Então adeus, podes ir.”
Mas se partisses hoje, choraria, se partisses hoje ver-me-ias apenas vestida de mágoa, e de pranto. Ficarias com a ilusão e o encanto quebrados, partidos, apenas.
E ambos; tu de me veres assim, sem sorrir. Eu de não te saber mais aqui presente, depois.
Amanhã podes partir. Amanhã ou noutro dia. Vais saber quando. Terei roupas alegres vestidas. E finjo aguardar-te onde sempre te espero, sabendo já que o dirás.
E dir-te-ei adeus, devagar. ”Então adeus, podes ir.”
Mas hoje não, que não é a hora, ainda. Nem tenho a roupa certa, e quero que a despedida seja tão bonita quanto a tua chegada à minha vida.
Adeus.

27.07.2006