27 janeiro 2007


A porta fechou-se. As paredes ruiram. Pelo chão jazem os pedaços do reboco da nossa linda casa. Findou. Acabou. Terminou. Não sei o que vai ser de mim. São demasiados lutos para fazer ao mesmo tempo. Já não oiço a tua voz quando chamo por ti. Mas não morro. Não te tenho na minha vida. Mas não renasço. Não termino este livro e continuo com ele ao colo, fechado, aguardando um sinal dos deuses, um brilho fugaz no céu, uma movimentação das pedras, uma mensagem das cartas. Este lugar ficará vazio. As emoções não permanecem iguais. Apenas a mágoa. Os silêncios apertam-me a vida. Sabes onde estou, mas não regresses, nem com lágrimas nem com um amor devassado por outros amores. Estarei aqui. Mas já estou de partida. Ainda sem saber que rumo tomar, nem em que direcção voltarei a encontrar a minha estrela polar. Já não sou para ti um pedaço daquilo que já fui. E tu não o és para mim. Mas, neste momento, neste lugar, fico parada, aguardando apenas uma mão invisivel que já não existe na minha vida. Sinto-me devastada. São apenas demasiados lutos para fazer ao mesmo tempo.

18.01.2007

25 janeiro 2007


Esta estrada parece-me tão longa. Não me sinto solitária quando chego a casa e não estás porque antes já (também) não estavas. Não sinto falta das tuas palavras pois nunca as ouvia. Mas tenho-te colado nos olhos e a cada hora a memória dessa imagem não se esbate. Não me sinto em paz e não sei como fazer as pazes com o meu passado e amansar o meu coração e descansar a alma.

16.01.2007

23 janeiro 2007


Mesmo que deixe tudo igual não vais voltar. Por vezes o teu cheiro ainda me assalta, mas não regressas. Mesmo que eu fique aqui e não mude nada; os móveis, que as paredes fiquem da mesma cor e o teu livro aberto na banca de cabeceira. Mesmo que deixe a luz da entrada acesa não reconhecerias o caminho de regresso. E esse caminho também já não é o mesmo. Não poderia ser depois da nossa estória ter ficado destruída no tempo. Com o tempo as palavras e os gestos serão lentamente quase esquecidos como um livro exposto às intempéries do passar dos anos. As letras apagam-se e esvaem-se lentamente.

Não vale a pena insistir. A poesia que sonhei não aconteceu e o meu corpo também se vai compadecendo do passar dos anos. O sorriso já não me é tão fácil. As linhas das expressões acentuaram-se. E não cheguei a devorar o mundo nos teus braços.

15.01.2007

22 janeiro 2007


Acordei. Acordei de vez para a vida. Afinal não é um conto de fadas. Não estavas do meu lado. E não morri. Sobrevivi. As saudades consomem-me, é certo, mas estou viva. E sangro como toda a gente. E choro sem limites. E vivo ainda. Mas sem dúvida que uma parte de mim ficou algures parada, petrificada no passado após a tua saída. E passo a passo, lentamente, solto os meus segredos a mim própria, não os admitindo ainda dentro de mim. São contratempos, penso para mim. E sorrio. Insisto que se esperar, ou andar, tão devagar, que outros pensarão que estou parada, as ruínas se voltarão a reerguer. Não te queria perder. Mas estou aqui, julgando que o tempo não passa. Não… na realidade queria convencer-me disso. Mas sei que não é assim. Os anos passaram e nós crescemos. Mudámos. Não seguimos os mesmos caminhos. E, hoje, quando não estás ao meu lado, olhando do alto dos anos que nos separam, a ambos do passado, sei que não suportamos os gestos gastos, os olhares fugidios e o não saber amar a pessoa que está ao nosso lado agora. Ainda não consigo dizer adeus. Não a ti. Ao nosso passado. Às nossas saudades.

15.01.2007

21 janeiro 2007


Estou quase vazia de ti. Solitária. Tão cheia de solidão. De uma tristeza que me enche os ossos, a carne e os músculos, os tendões e o éncefalo da falta que sinto de ser amada. O que me torna o sangue ainda mais sólido e me faz escassear as palavras para descrever os sentimentos. Estou presa à vida como que uma marioneta às mãos do seu dono. Mas quem me tem não é ninguém. Aguardo apenas que chegues para deixar de fazer o que esperam de mim e recortar os fios à medida da minha mão. Consegui-lo-ei?

15.01.2007

20 janeiro 2007


As lágrimas chegaram assim, sem sequer ser preciso improvisar. As palavras não descrevem o fervor dos meus pensamentos. As flores brancas não descrevem os sentimentos e a solidão que já era grande antes, e agora torna-me numa ilha perdida no oceano de um amor que realmente não desfrutei na vida. Tive-te à distancia e à distancia esperámos um pelo outro. Tivemos tantos que foram mais na vida um do outro que cada um de nós deveria ter sido realmente. Agora é tarde. Nunca soube a tua cor preferida nem a flor que mais gostavas. Dei-te rosas. Brancas. Como quando vi o mundo ao nascer. Não sei se gostaste. Não sei se me ouviste alguma vez. Mas agora é tarde, é tarde.

10.01.2007

19 janeiro 2007


As tuas ausências chamam-se apenas prolongamentos dos nossos silêncios. Isto é demais para uma pessoa. O futuro está longe de mais de mim agora e aqui. O tempo esqueceu-se de mim e perdeu-se de mim. E os meus gritos não chegam ao pensamento que não pára e o choro não te é audível. Sabes tudo de mim. Os medos, os insucessos, os pavores, os terrores, as alegrias, os eufemismos e as vaidades. E ainda assim não te chego a ti. Perdi-me entre o inicio e o teu meio, nunca tendo chegado ao teu fim nem uma vez. Apagaste a música, fizeste delete no disco rígido da tua memória e não quebras nunca o teu silêncio. Não cheguei ao teu principio. Nunca me falaste realmente de ti. Nem nunca estiveste mesmo ligado a mim. Nem uma vez. E agora aqui sentada na escuridão oiço apenas o sussurrar da noite aguardando ainda que ela me traga uma réstia de ti. Mas apenas o silêncio se derrama em mim. E oiço o bater do meu coração como se estivesse debaixo de água com o brilhar das estrelas sobre a minha pessoa. O medo apodera-se do meu corpo, mas a mente já não está aqui. Está longe neste céu que me traz a estrela polar lá ao longe a indicar-me o caminho que deveria ter seguido, sem tomar atalhos para chegar a ti. Não chego. Não cheguei. Não chegarei. Ainda não esta noite. Ainda não esta vida.

10.01.2007

18 janeiro 2007


Aqui estamos. Num ponto sem retorno, sem marcha atrás e sem quebras e sem fins, só com replays contínuos e recomeços desgastados. Nenhum de nós voltou igual lá de onde chegámos agora. Nenhum de nós regressa intacto daqui para a frente nesta jornada que chega agora ao fim. Se nesta altura medonha da vida não estás comigo, quando estarás? Pergunto eu. Estou sempre lá, tu é que não me vês. Afirmas tu. Nenhum de nós está disposto a ceder. Apenas a magoar. Ou a deixar continuar magoado. E sabes, a esta altura sei de cor e salteado que não vale a pena. A vida é tão curta e tão pequena e passa tão depressa que se não me amares de outra forma e me fizeres sentir especial pelo menos uma vez por mês não vale a pena esperar por mudanças que não chegam nunca. Nenhum de nós se dá sequer ao trabalho em fingir os gestos que fazíamos dantes quando ainda nos amávamos por completo, ou apenas por metade. Nenhum de nós está disposto a ceder, e muito menos a deixar o outro ser feliz na medida do possível. Já não nos damos sequer ao trabalho de fingir sermos felizes. Nem sequer rimos com um riso cheio quando temos pessoas à nossa volta na ânsia de fazer de conta que ainda resta algo. Entrego-te as mentiras que me ofereceste todos os dias do resto da minha vida.

10.01.2007

A consciência tornou-se a minha maior inimiga. Olhar em volta e tê-la mostrando-me perfeitamente todas as dores e solitárias noites que terei pela frente, o recomeçar tudo de novo, o reconstruir tudo do principio. É o que mais me magoa, a minha própria consciência da tão minha pequena e mesquinha fragilidade que não me deixa ir mais além.

5.01.07

17 janeiro 2007


A solidão não me vai doer só a mim, sabes. O teu pensamento vai acabar por fazer uma marcha atrás em velocidade acelerada por puro arrependimento. Mas aí as saudades, embora te magoem mais que tudo, quando chegares e vires as paredes da tua casa cheias de solidão, o sofá antes partilhado, agora solitário e abandonado, frio, sem presenças humanas reais e não sonhadas. Aí, o teu coração vai recordar-se do meu tom, do meu cheiro e da minha voz num tom mais suave do que ele é na realidade, sabes. Porque a solidão quase te enlouquece e é apenas por ela que não me soltas completamente. E continuas à espera com um pé em cada barco, mesmo correndo o risco de acabares afogado num mar revolto sem que ninguém olhe para trás sequer na tua direcção num gesto de salvamento.

Mas esta é a solidão que tu próprio construíste à tua volta e que acabará por se edificar totalmente à tua volta. E assim terás aquilo que tu próprio escolheste e colherás as tuas plantações de ódios amestrados que tanto soubeste manter vivos no teu coração.

5.01.2007

Já não sou dona do teu céu. Hoje sei que nunca o fui. Pensei, por vezes, que a vida também me sorria, e, que o sol também me brilhava. Mas hoje sei que nunca chegaste. Apenas tive a tua mão sobre a minha. Mas nunca quando a precisei. Se ao menos olhasses para mim agora e me visses assim, vazia, vazia de tudo. Até de ti. Apenas um espaço vazio a aguardar a raiva latente do abandono e da tua fuga desenfreada em busca do teu ideal. Não me resta senão esperar. Por ti. Por ti que nunca me chegaste realmente, que nunca aqui estiveste ao meu lado. Tu que nunca acreditaste e que me abandonaste sem partilhar sequer as lágrimas magoadas. Nem a memória da tua cara me lava do sentimento abandonado e das lágrimas solitárias sem razões aparentes. E sem razões escondidas também. Agora que me destruíste o ego, o amor próprio podes seguir, só, no teu trilho. No caminho que escolheste apenas para ti.

4.01.2007

16 janeiro 2007


Nestes dias da mais perfeita solidão, apercebi-me de quão pouco sou para ti e muito mais para outros que não me sabem sequer o cheiro. O sabor metálico da traição ainda não se me degustou totalmente, e, como dizem alguns, é apenas mais uma experiência. Não preciso que o amanhã me refresque as ideias, mas que me clarifique para saber que preciso de abandonar esta estória à muito terminada por ambos.

4.01.2007

15 janeiro 2007


A vingança fria a que me submeteste. A vingança dolorosa de me fazeres passar exactamente pela mesma ordem, medida e tamanho à solidão, abandono e traição a que te submeti transformou-me o coração num bloco de gelo que me faz obrigatoriamente flutuar de pernas para o ar numa corrente marítima gelada, arrefecendo-me o coração tropical até eu não ser diferente daquilo em que me alterei. Não me abandonas. Não me deixas. Mas não voltas. E eu não te deixo. Não te abandono. E não me respeito. E não gosto de mim.

01.01.2007

14 janeiro 2007



Hoje se pudesse entrava dentro de ti e abria-te uma tampa que vazasse essa tristeza que tens tão dentro do teu âmago e das tuas mãos. Hoje se pudesse entrava dentro de ti e deixava-me afundar no teu sofrimento que todos os dias te tira o sorriso e te deixa afundar mais um milímetro nesse mar de abandono. Tu própria não te deixas submergir de uma vez por todas. Nem te deixas pôr a salvo. Andas meio debaixo de água até o ar se te exterminar por completo em todas as células do teu ser para voltares a vir ao de cima e encheres os pulmões de ar. Se pudesse tirava-te todo o peso de cima. E carregava-o ao teu lado. Hoje caminho-te sobre as tuas pegadas na esperança de te aliviar. De te confortar. Mas não o consigo fazer. O teu coração, pobre e tão isolado deixa-se ficar nesse deserto escuro, completamente abandonado, porque é mais fácil sofrer que lutar.

1.01.2007

13 janeiro 2007


Ainda guardei espaço no meu coração para ti. Mas acabo por concluir que mesmo que te perdoasse os erros do passado e tu me desculpasses os pecados cometidos mais atrás no tempo decorrido entretanto, nada se iria alterar, porque apenas restaria este buraco gigante que nos preenche naquilo que somos um para o outro. Mas agora que te vejo mais débil e solitário tenho pena dessa lacuna no meu coração ficar assim, por preencher. E tu ficas assim, sem me conhecer realmente quem sou e de onde venho, e como sou e porque assim sou. Não me conheces. E eu não te conheço. Tenho espaço no meu coração para ti. Mas não te quero pedir que entres.

4.01.2007

11 janeiro 2007

06 janeiro 2007


A morte vem lentamente interpor-se entre nós. E as palavras que nunca dissemos começam a escassear na boca de cada um de nós. E os gestos de carinho que nunca tivemos um para o outro começam a fugir-nos dos nós dos dedos por não reconhecerem na outra pessoa o fonte de carinho a que está habituado. Mas agora que a morte se começa a interpor entre nós estranho pequenos gestos que até aqui não te tinha conhecido ou apenas não te tinha reparado. E agora que a morte te começa a tirar o fôlego, tira-me a mim quem nunca tive. Na realidade não me tira ninguém que eu não soubesse já fora da minha vida. Mas atormenta-me saber-te já fora dela quando nunca entraste nela, sequer, quanto mais profundamente. É como se a morte, que agora se começa a interpor entre nós, e as palavras e os gestos que nunca dissemos ou fizemos agora diminuíssem a distancia entre as mãos um do outro até restar apenas um vidro que foi perdendo a espessura, a cor e quase que te sinto através dele. Mas tantos anos de afastamento, de sorrisos mascarados, de dores transparentes mas sentidas, se desvanecem agora que a morte se começa a interpor entre nós?

28.12.2006

05 janeiro 2007


Hoje, se calhar só hoje. Vou crescer e ser adulta. Não te vou cobrar o resto da vida o que não partilhámos, o que não foi nosso. A ternura que perdemos, deitada ao mar, no espaço que restava entre nós. As lágrimas que chorei vou deitá-las à terra de uma vez por todas. Pode ser que fortifiquem e que façam crescer uma árvore. Com raízes daquelas que nunca nos uniram. Não vale a pena continuar a magoar-te e querer-te atingir pelo mal que me fizeste, coisa que nunca reconheceste como tal. O meu mal nem sempre será em igualdade, de tamanho, para ti uma maldade.
Hoje vou-me deixar ficar para trás.

28.12.2006

04 janeiro 2007


Quero-te de volta à minha vida. Não a ti que já tive. Não a ti que já amei. Não a ti que já te chorei. Não aqueles de quem já me despedi. Quero sim de novo o Amor. Aquele que me despedaça a vida, a alma, o coração, e me faz respirar e me faz sentir viva. E quando posso ser feliz. Feliz, não meia feliz, não meia contente, não desinfeliz. Não algo que fica no meio, mas quero os extremos, quero-te de volta à minha vida, de uma vez, só de uma assentada. Faz-me sentir viva, rasga-me a carne, a vida e a alma, mas faz-me, dá-me, sente-me, porque também vou amar, e vou amar tudo no todo, sem pensar, como já fiz no passado, não um amor antigo. Um amor novo, um a quem me posso entregar toda de novo. E reerguer-me ao seu lado, deitar-me abaixo e voltar a fazer-me as vezes necessárias, mas fazer-me uma nova mulher. Ao lado de um novo amor. De um novo, que não me olhe para trás, para os passados obscuros e para os iluminados, que me sente e me quer apenas pelo que sou e pelo que posso vir a ser ao seu lado. Não me sonha como uma extensão daquilo que quer, mas aceita-me como uma extensão que se constrói todos os dias à medida do que ambos queremos. E o que não temos força para aceitar, que tenhamos força para transformar em algo que faz parte de nós, apenas. Porque não mudamos o que amamos. Amamos pelo que já era. E não amamos um sonho projectado por nós.

Ou será que o Amor não passa disso mesmo?

23.12.2006