19 maio 2011



Hoje, de repente, tive saudades de te escrever. A ti. Àquele amor que me enchia as noites de dúvidas existenciais, que se me impregnava na pele e se recusava a sair-me dos sonhos, dos idílios e do pensamento.
Toda a minha vida girava à tua volta.
Não respirava sem ti. Não vivia sem ti. Não sonhava sem ti. Não pensava sem ti. Não funcionava sem ti. Era de ti que vivia.
De repente descobri o mundo para lá de ti. E deixaste de ter a importância que só eu te atribuí, durante anos. Dias e dias a fio, a respirar com dificuldade, julgando que não poderia viver sem ti, com a certeza absoluta que as finas linhas que nos ligavam se rasgariam no momento em que tirasse os olhos de ti, em que tirasse o pensamento de ti, como se fosse eu que te forçaria a estar ligado a mim.
Mas não. Pelo contrário. Era eu que me forçava a estar ligada a ti. Obrigando-me a não viver, a não respirar, a não sorrir, amedrontada de não te ter. Mas, por isso mesmo, nunca te tive. E foi assim que um dia me dei conta do imenso vazio que trazia no teu lugar, completamente vago ao meu lado. Eras feito de uma matéria refractária, a que nem os sonhos querem pertencer.
E assim, um dia ao acordar, olhei para a janela e vi um sol esplendoroso e achei que deveria respirar. Olhar à volta, aproveitar aquela luz maravilhosa que enchia o céu naquele dia, encher os pulmões do ar que não era rarefeito, finalmente – eu é que o fazia – e voltar a viver.
Apeteceu-me sorrir.
E voltei a sorrir. Assim, subitamente.
E, quando olhei para o lugar ao meu lado, que era o teu e que afinal esteve sempre vazio, vi que uma chama o enchia de uma luminosidade fantástica. E aquele lugar vazio agora não seria difícil de arrastar comigo.
E foi assim o princípio do nosso fim. Do fim da tristeza que me enchia os dias e as horas da falta que te sentia e do vazio que não aceitava e que foi a única coisa que me deixaste a encher a vida depois da tua ausência que foste sempre em mim. Mesmo quando estavas comigo.

Setúbal, 19 de Maio de 2011

Sem comentários: