Adicionar legenda |
Os
dias passam sempre a correr. Esse é o meu grande problema. O tempo. O tempo que
não me deixa sentir-te todos os dias da forma que mereces. O tempo que não me
resta sempre para te acariciar o rosto com a barba ainda por aparar de manhã.
Para te encher a boca de beijos. O tempo que não me sobra de forma a cheirar-te
o aroma do champô de lavanda que te comprei e que tu não gostas, mas ainda
assim usas para me agradares. É o tempo que não me resta de forma a abraçar-te
de noite e entrar por ti adentro, dizendo-te a cada instante que te amo.
Mas
não me sais do pensamento.
O
tempo, que devia parar, de forma a eu ter tempo, na correria louca do relógio
que não pára, do tic-tac de todos os dias, os segundos que se transformam
rapidamente em minutos, os minutos em horas, as horas em dias, os dias em
semanas, as semanas em meses, rapidamente não dou por ele e fico sem tempo para
me deitar ao teu lado, apenas a ouvir a tua respiração. Apenas para sentir o
teu cheiro. Apenas para te segredar, de forma a sentirmos só nós aquelas
palavras, que te amo. Que me enches a alma. A vida. E o corpo também. A
correria de todos os dias tirou-me o tempo de nos sentir e faz-me sentir
saudades de nós. De nós no tempo da praia. Da nossa praia. Em que a enchíamos
de amor. Um amor sentido, cheio de prazer e carnal. Em que éramos apenas nós os
dois. E não existia mais ninguém em volta. Eram todos invisíveis para mim e
para ti, excepto nós. Só nós escapávamos
à invisibilidade de nos amarmos como se o mundo fosse acabar no minuto
seguinte.
Não
me fartava da tua boca, não me enchia do teu colo. Não me terminava de fazer
caber as tuas mãos no meu coração.
É
assim que nos revejo vinte anos antes.
Hoje
apenas nos vejo atarefados, cheios de interrupções, sem tempo para mais do que
um beijo rápido, em que nem nos é possível contaminar-nos com a mais simples
constipação.
Sinto-te
falta; De quando não dormias cheio de desejo. De quando vivias por mim, cheio
de nós em ti.
Hoje
não temos tempo, mas sinto-te a falta na mesma.
Sinto
a falta da loucura da paixão.
Mas
contemplo a maresia calma que tomou conta da nossa vida, hoje.
Esse
mar que vem devagar lamber-nos os pés, cheio de doçura, como que a pedir tempo
para a nossa atenção.
Reconhecer-nos-emos
daqui a alguns anos, quando estivermos a braços com muito tempo e sem o tic-tac
do relógio e do dia a dia a atormentar-nos todos os dias?
Setúbal,
8 de Maio de 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário