12 dezembro 2013

Nós, no nosso tempo, sem tempo no tempo dos outros

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Os dias passam sempre a correr. Esse é o meu grande problema. O tempo. O tempo que não me deixa sentir-te todos os dias da forma que mereces. O tempo que não me resta sempre para te acariciar o rosto com a barba ainda por aparar de manhã. Para te encher a boca de beijos. O tempo que não me sobra de forma a cheirar-te o aroma do champô de lavanda que te comprei e que tu não gostas, mas ainda assim usas para me agradares. É o tempo que não me resta de forma a abraçar-te de noite e entrar por ti adentro, dizendo-te a cada instante que te amo.
Mas não me sais do pensamento.
O tempo, que devia parar, de forma a eu ter tempo, na correria louca do relógio que não pára, do tic-tac de todos os dias, os segundos que se transformam rapidamente em minutos, os minutos em horas, as horas em dias, os dias em semanas, as semanas em meses, rapidamente não dou por ele e fico sem tempo para me deitar ao teu lado, apenas a ouvir a tua respiração. Apenas para sentir o teu cheiro. Apenas para te segredar, de forma a sentirmos só nós aquelas palavras, que te amo. Que me enches a alma. A vida. E o corpo também. A correria de todos os dias tirou-me o tempo de nos sentir e faz-me sentir saudades de nós. De nós no tempo da praia. Da nossa praia. Em que a enchíamos de amor. Um amor sentido, cheio de prazer e carnal. Em que éramos apenas nós os dois. E não existia mais ninguém em volta. Eram todos invisíveis para mim e para ti, excepto nós.  Só nós escapávamos à invisibilidade de nos amarmos como se o mundo fosse acabar no minuto seguinte.
Não me fartava da tua boca, não me enchia do teu colo. Não me terminava de fazer caber as tuas mãos no meu coração.
É assim que nos revejo vinte anos antes.
Hoje apenas nos vejo atarefados, cheios de interrupções, sem tempo para mais do que um beijo rápido, em que nem nos é possível contaminar-nos com a mais simples constipação.
Sinto-te falta; De quando não dormias cheio de desejo. De quando vivias por mim, cheio de nós em ti.
Hoje não temos tempo, mas sinto-te a falta na mesma.
Sinto a falta da loucura da paixão.
Mas contemplo a maresia calma que tomou conta da nossa vida, hoje.
Esse mar que vem devagar lamber-nos os pés, cheio de doçura, como que a pedir tempo para a nossa atenção.
Reconhecer-nos-emos daqui a alguns anos, quando estivermos a braços com muito tempo e sem o tic-tac do relógio e do dia a dia a atormentar-nos todos os dias?


Setúbal, 8 de Maio de 2012

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