25 março 2010

Telegrama dos sete meses

Este blogue tornou-se um babyblogue… mas não dá para mais. A minha cabeça está demasiado feliz para chorar e arrancar as penas do meu coração e de fazer chorar as pedras da calçada e sabem que mais? Estou muito mais feliz assim.
Não consigo escrever, definitivamente.
Nalguns dias, em que arrufos pairam pelo ar, o meu coração volta a ficar destroçado por alguns segundos, mas leva tão pouco tempo até alguém o consertar, que não me dá tempo para me chegar ao pé de um teclado e fazer de conta que espremo as mágoas.
Não escrevo mas estou feliz e agora?

Dos filhos:

Filho quase grande – por vezes a pré – adolescência abate-se sobre ele e responde-me, abro-lhe uns olhos gigantes (mais desconcertados que maléficos) e fica-lhe – por enquanto – a pesar o coração e a alma, o espírito e a consciência por me falar assim, sobranceiro, como se já fosse um homem com mais 3 palmos que eu (o que não é difícil, eu sei). Ao fim de 5 minutos ou de um duche vem ter comigo, com um olhar de cachorro abandonado à beira de uma estrada e pede desculpa: “Não te devia ter falado assim, desculpas-me? Eu prometo que vou tentar não o voltar a fazer”. Embora o espaço entre estas respostas cheias de testosterona e parvoíce adolescente esteja a encurtar velozmente, eu até acho que não me posso queixar. Continua a ajudar muito em casa, uns dias mais que outros, claro, que não tenho um santo em casa. Aquilo é uma casa, não é um altar… Por isso, até acho que não estou mal servida de filho mais velho. Podia ser bem pior, por aquilo que oiço e por aquilo que vejo.
Já não lhe posso dar beijos repenicados à porta da escola e no ATL, então, nem pensar. Se levar um beijo, leve e suave como uma pena na bochecha já vou com sorte. Discrição é palavra de ordem!
Farta-se de refilar com o irmão; é por causa da roupa dele que o irmão veste, é porque o irmão arruma menos que ele, é porque o irmão não faz logo o que ele manda, é porque o irmão quer ver os simpsons, quando ele quer ver a bola. Mas, embora refilem como cão e gato, no fim até se dão bem e protegem-se um ao outro. MUITO.

Do filho quase do meio – que tem a mania que será pequeno para sempre – terá o síndrome do Peter Pan?, tudo igual. A criança recusa-se a crescer. Fala ao desbarato e se as palavras dele fossem dinheiro estávamos tão ricos, mas tão ricos, que o dinheiro do mundo não chegaria para ser nosso. Mas não é dinheiro. O que se por um lado não é nada mau – por outro trocaria algumas palavritas por umas notas de 100,00€… A criança não se cala. O que é giro, para quem andou tantos anos na terapia da fala a aprender a articular as palavras e a ter ajuda para construir frases com sentido, hoje desgasta toda a gente às 10h30 de um sábado (atendendo a que está levantado desde as 9h00, alguém consegue perceber o meu desespero?). Literalmente o silêncio não faz parte do seu dia-a-dia. Fala tanto e tão desmesuradamente, que por vezes temos de desligar e abanar a cabeça, fazendo hum hum, como se o ouvíssemos realmente, mas já não estamos ali, estamos num paraíso longínquo, a ouvir o mar a bater e as nuvens a pairar sobre as nossas cabeças. Mas ele ainda assim não desiste. Mas é também um amor. Faz declarações de amor maravilhosas. Manda-nos mensagens (a mim e ao Pai) a dizer que nos adora, que ama, bla, bla, bla, bla. E fá-lo na nossa presença também. E conta tudo o que se passa na escola, no ATL, no caminho, no wc, no refeitório, etc. Sei tudo sobre a vida da funcionária da escola, da professora, da cozinheira e da monitora. E vice-versa. Tem todos os dias aventuras para contar. É um contador inato de estórias e parece que tem um monte de peles penduradas algures em casa, pois pelo que conta quase todos os dias anda à pancada na escola. Deve ser mau como às cobras, mas só ele é que o diz. Mais ninguém se queixa. O Pai fica preocupado se aquela imaginação não lhe fará mal, se algum dia apanha e é obrigado a deixar de pensar que é o super herói e fica a pensar ao contrário. Calado e abismado. Mas ele achar, na imaginação dele, que é o Golias e que ajuda todos os colegas da escola também não é mau de todo! Segundo ele, também namora muito...
Temos um combate mesmo na véspera do irmão nascer – portanto, pressupõe-se que às vésperas de me despedir da barriguinha, andarei a ver um monte de marmanjões a levar – ou a dar – pancadaria uns nos outros.
Será que o meu dá ou leva?


Do Pai: Continua a (tentar) fazer-me serenatas. Ainda não chegou lá, mas a esperança ainda não se (nos) desvaneceu por completo. Claro que já não fico ao lado dele durante os exercícios - repetitivos - que faz até à exaustão. Enlouquecem-me e irritam-me. Mas quando toca uma música do início ao fim já é um encanto. Especialmente se tiver o filho quase grande a cantar com ele.
Está quase a completar o seu 44º aniversário. Não sabe se quer um home cinema, um dvd simples, um telemóvel, ou camisas, ou calças, e já mudou de ideias umas 500 vezes. Já escolheu o que quer e já alterou o nosso presente sei lá quantas vezes. Tem um telemóvel pré-histórico que deixa de funcionar de forma mágica – e que nos desliga as chamadas – mas como ele funciona, de vez em quando, dois dias seguidos sem alterar o écran ou sem desligar 10 chamadas seguidas, ele acha que vai durar mais 10 anos (ah, ah, ah, ah). Já não posso com os panfletos, páginas retiradas da net, e livros de pontos e revistas de telemóveis.
Mas se não fosse assim, não seria ele, não é verdade?

Do filho mais pequeno; Bebucas: andas tão, mas tão sossegado que por vezes nos deixas preocupados. Quase não mexes, não sei se ficas assustado com a loucura que reina cá fora, com a confusão que os manos (os pais não...) fazem, se és apenas um bebé sossegado. Prefiro que mexas muito, agora. Cá fora logo tenho tempo para choramingar e pedir por um bebé calmo. E arrepender-me por estas palavras.
Penso que tudo esteja bem. De vez em quando dá sinal de si. Já quase temos o berço. E daqui a mais ou menos 9 semanas estaremos à tua espera de braços abertos.
Daqui a uma semana deveríamos ir fazer uma consulta e uma ecografia, mas o espectro da greve faz-me pensar que ficará para uma outra altura…
Senhores Enfermeiros; não querem mudar a vossa greve para outro dia, que me empate menos? É que nós queremos ver o Bernardo, ouvir o Bernardo, saber quanto pesa o Bernardo e tenho alguma curiosidade em saber quanto aumentou de peso a mãe do Bernardo. Além de que é o único dia em que ambos os irmãos poderão partilhar da visão do Bernardo presencialmente, sem faltarem à escola...
As malas estão prontas, faltam as gotas para as cólicas, o berço montado e uns chinelos para a Mãe.
A depilação e arranjar as unhas, se calhar, é melhor deixar para mais perto da hora H, porque talvez seja mesmo um pouco cedo…

De mim: Est
ou cansada. Olhei-me ao espelho e apercebi-me que afinal estou a ficar cheia de cabelos brancos (o quê?) e com rugas na testa e à volta dos olhos. O creme na cara - que eu não ponho (não punha) – está a fazer falta. Mesmo muita falta. Percebi que afinal já são 36 e que eles ao passar, foram fazendo estragos. Decido que tenho de ter tempo para me voltar a pintar (ou pôr betume na cara – como dirá o meu carinhoso marido) pôr brincos e colares, usar relógio e pulseiras, como fiz até à poucos anos. Mas juro que as boas intenções, de enormes, passam a minhocas tão, mas tão minúsculas, que nem sequer as vejo no meio da falta de tempo, entre os milhares de outras coisas por fazer e principalmente com a preguicite que se abate sobre mim; Bezerrar, jiboiar são verbos que se adaptam perfeitamente a mim no início e ao final do dia.
Mas continuo a subir e descer, a chamar nomes aos árbitros, a gritar pelés, a passar a ferro, a arrumar a casa, a lavar as casas de banho e a pôr a máquina a lavar e a secar. (Mas devo admitir que é só porque ninguém o vai lá fazer por mim - alguém se chega à frente?).
Mas já me sinto um pouquinho mais cansada.


Chegámos aos sete meses de gestação.

Setúbal, 25 de Março de 2010

1 comentário:

joão marinheiro disse...

Quanta ternura encerras nas palavras.
abraço de maresias