14 janeiro 2010

O TEMPO

O tempo continua a passar desmesuradamente. Demasiado rápido. E, por isso, não dou tantas vezes pela tua falta. É só quando eles chegam, assim, melosos, de olhos brilhantes e me perguntam: "Achas que ele ia gostar?" É aí que bate a saudade. São eles que mais verbalizam. Eu só me lembro às vezes, quando o tempo me dá tréguas e a lembrança me toma de assalto. Hoje teríamos ido jantar com ele. Hoje teríamos almoçado. Hoje teríamos comido uma massa de peixe. Hoje teria sido um cozido. E eles que me cobram os pratos. Ele sabia fazer, tu não sabes tão bem. No futebol, nos treinos de um e de outro, nos combates, no Natal, nos Aniversários. Aos Domingos, que partilhavam a mesa contigo. Naquele dia em que tudo realmente terminou e que eu apaguei da memória (por completo) eles não se esquecem. Naqueles corpos ainda tão leves de vida, naquelas memórias ainda tão frescas, cheias de brincadeiras, guardam sempre lugar para ti. E foram eles que me recordaram o dia. Uma frase perdida num caderno e um olhar foi quanto bastou para ver o lugar que ainda ocupas nas vidas deles. Na minha também.
Mas eu não verbalizo.
Setúbal, 14 de Janeiro de 2010

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