03 maio 2007


Consegues distinguir o certo do errado? Consegues por completo? Hoje estou com o mundo no peito, sabes, a lua numa mão e o sol noutra. O céu a divagar-me por entre os olhos e o mar a encher-me o corpo de liquido. Não sei o que te dizer, não sei o que te escrever. Que tenho saudades? Isso já não é novidade para nenhum de nós, pois não? Ainda mais para mim, que sempre me sei, conhecendo-me, quase melhor do que todos os outros. Que as saudades fizeram de mim um ser humano melhor e pior em muitos pedaços soltos da minha vida? Isso também já não é novidade para quase ninguém. Que ambos estamos sentados debaixo de uma sombra gigante a observar a deslocação da mesma à nossa volta, a ver se conseguimos descobrir aonde é realmente o nosso lugar? Também já o sabemos, ambos. Os teus olhos deixaram de ser penetrantes, pois já só és capaz de demonstrar alguma ternura na hora de quase deitar os corpos cansados, e quando a solidão habita entre nós. Porque essa que te enche de vazio e te faz julgar que o amanhã pode ser assim, quase vazio como as noites são, sem os gritos e os risos que as crianças e os outros habitantes desta casa nos enchem a vida e o ar. E nessas alturas, em que a solidão, te enche quase tanto a ti como ao resto do espaço que nos circunda tens receio dela e procuras-me por entre os teus braços e puxas-me para a tua boca com receio de que também eu, já de tão habituada à dispersão das palavras e dos sons, me desfaça como tudo o resto na tua vida se vai desfazendo como se de um sonho de açúcar em contacto com a tua língua húmida. E então, sem palavras, ou com elas ocas, o que significa o mesmo, puxas-me para ti e mostras-me como a tua boca já foi doce pelos sonhos que se te desfizeram nela.

29.04.2007

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