13 maio 2007


Sabes quando dizemos olá e a outra pessoa responde-nos adeus? Os grandes Amores, dizemos nós, não morrem, dizemos nós, juramos até se preciso for. Mas no fim, depois, quando não sobra mais que a raiva, ou até essa já passou, fica apenas uma breve e ligeira memória, longínqua de tudo o que passou, e pior, sabes, com o passar dos anos ficam as lembranças ligeiramente enubladas, ligeiramente distorcidas, até não passar de uma simples amálgama de recordações difusas e confusas. Gostaria de não te ter esquecido, tanto, pelo menos. Já não te queria a matar-me o ar e a vida, a encher-me de cabelos brancos e de tristeza que não passava de forma nenhuma, por mais que me pintasse, a mim e ao cabelo, permanecias-me lá. Na pele. Mas agora foste-te, e não permaneceu nada, nem as lembranças da primeira vez que fizemos amor, nem da primeira vez que me foste buscar à escola. Guardei-as tão fundo no meu ser que hoje não as consigo encontrar pelo rastro, nem pelo cheiro. Os anos e as memórias sobrepostas, as raivas, as mágoas e as saudades deram cabo de ti e de tudo o que eu deveria ter salvado de um naufrágio que se adivinha em todos os grandes amores. Teria sido bom se tivesse salvo alguma coisa. Teria sido bom, hoje que já passou o ódio de ter sido trocada, a angústia do teu amor por mim não crescer em latitude e altitude a cada dia que passava, depois de tudo isso, até da saudade ter passado, é uma pena não ter guardado no meu coração a lembrança das noites por baixo de um luar grande e amarelado na praia de mãos dadas.

Pensando bem, por vezes nem sei senão terás sido uma simples imaginação da minha cabeça. Talvez nem tenhas existido…

Vou ainda procurar-te mais um pouco. Depois de tantas décadas, talvez ainda te consiga encontrar pelo cheiro dentro de mim.

11.05.2007

2 comentários:

joão marinheiro disse...

Fica-nos o cheiro entranhado por dentro nas memorias eternas não é...e aquela enorme enorme gigante sensação de perda que não se explica não é...
Abraço agora

algevo disse...

Querido João,
alguém me disse que a saudade é um sentimento que se entranha em nós. Mesmo que seja saudade de ter saudade. É como se fosse um exercicio de profunda nostalgia.

Eu sei que nalguns dias simplesmente não se explica. É a perda de quase tudo.

Saudades, aqui de onde o rio se junta com o oceano.

I.