30 novembro 2006


Era já noite quando entraste no meu quarto. Apenas se ouvia o som dos teus pés descalços a bater no soalho de madeira. Pezinhos de algodão, de tão leve que eras ainda nesta altura. Eu estava diante de um espelho apenas de roupão que entreabri para te reveres no meu ventre arredondado, com a pele de tal forma esticada que te servia de espelho a ti. É ali que te vês os olhos. Na pele da tua mãe. Eu. Peguei-te na mão e coloquei-ta sobre o meu ventre prestes a rebentar de vida. Talvez te quisesse fazer sentir a outra vida que se mexia. A criança que também surgia para lá da minha pele. Mas queria-te saber ainda ligado a mim. Olhaste-me sem me compreender enquanto as lágrimas me corriam pela face. Perguntaste-me se doía, enquanto me acariciavas a pele luzidia, onde te revias. Limpei os olhos com um lenço branco e simples e levantei-te para o meu colo, aquele pouco que me restava, que sempre te pertencerá e apertei-te por longo tempo contra o meu peito para partilhares comigo os 3 corações a bater em uníssono. Respiraste o meu cheiro quente com os olhos fechados. E eu inspirei as tuas golfadas de oxigénio. Gostaria de ter imortalizado aquele momento e de nunca mais te ter pousado no chão.

28.11.2006

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