12 novembro 2006


Gostava de saber fazer essas cenas fixes que vocês fazem em que quando se clica numa palavra se vai parar a outro blog. Mas não sei. O computador para mim serve para escrever. Bater nas teclas, incansável, é para mim uma terapia. Mas isto, para dizer que li, numa das minhas visitas diárias aos vários blogs dos quais sou leitora assídua, li uma frase, dita / escrita por uma 3º pessoa, onde constava “ aquele lugar onde só chega quem não tem medo de naufragar”.
Já passaram vários dias e o tom destas palavras não me saem da cabeça. É o timbre delas. Não sei. Mas penso amiúde nelas. E eu sou assim, quando tenho uma coisa na cabeça tenho de a descobrir, de a entender. Ou simplesmente de falar sobre ela.
Só quem não naufragou não tem medo do que se sente nessas alturas. O pânico de ir ao fundo, o pânico de sofrer, de errar, de arrastar outros na dor. O pânico da solidão. Acho que eu diria, que a esse lugar só quem vai é quem não tem medo de recomeçar tudo outra vez. E esse é um naufrágio que dói. Já sofri alguns naufrágios. Uns maiores que outros, alguns num paquete de luxo, outros num simples bote de borracha, alguns ao largo, durante a noite, e em penumbras tempestuosas. Outros, ali tão perto da beira mar que ao fim de algumas, poucas, braçadas já estava em terra firme com o pé assente na areia.
De todas elas ficou-me um amargo de boca, maior ou menor, consoante a grandeza do acidente em si. Mas de todas elas, ficou um medo cada vez maior de me aventurar. Porque não passamos todos nós de barcos, imersos num mar de solidões, onde deparamos com alegrias em ilhas dispersas ou vidas em continentes aglutinados.
Mas no barco, que somos nós, após cada naufrágio, os danos vão sendo maiores, por muito que se remende e conserte. E depois fica apenas o medo de nos aventurarmos a um lugar aonde só chega quem não tem medo de naufragar.
Eu continuo-me a aventurar. Cada vez com mais bóias, sinalizações, GPRS, pensos e betadine…mas como somos máquinas de inventar esperanças…quase todos seguimos em frente.

Eu sigo. Mas com medo de naufragar outra vez.
Será que não alcanço esse lugar?

29.10.2006

4 comentários:

AnaP disse...

Se não soubesse que estava no teu blog, diria que tinha sido eu a escrever estas palavras, pois também sinto o mesmo... agora mesmo, estou a reparar o casco de um naufrágio e já sei que vou ficar em terra por uns tempos até ter a certeza que não vou ao fundo outra vez, até ter a certeza de que está tudo muito bem consertado... só não sei se entretanto a maré não amaina e eu não vejo, por estar ainda a olhar para o casco, a ver se já está todo consertado e não mete mesmo água... cruel dilema, este! Beijo grande!

A. Pinto Correia disse...

Do meu naufrágio ficou-me a certeza de que não voltará a acontecer mais nenhum afogamento.
O medo é nosso inimigo. Vence-o, enfrentando-o e dndo-te uma oportunidade

algevo disse...

anap:

o que sentiste sinto tantas vezes quando estou a navegar por entre as tuas letras.


Por experiência própria - o que não significa que o faça... - não deixes de olhar para o mar enduqnato consertas o casco. Olha o por do sol, ou apenas o horizonte. Podemos não ver muito, mas ajuda a reflectir. E quem sabe, o coração fica mais calmo.

Beijo.

I.

algevo disse...

Unicus:

Eu, ao contrário de ti, não tenho certezas de nada, vou andando, umas vezes em água, outras em terra firme. Ao longo dos tempos vou tendo mais cuidado. Mas não deixo de andar dentro de água. Quem sabe, da próxima não evite mesmo um afogamento.

Oportunidades dou-me quase sempre. Muitas vezes sinto é que a vida não me dá as suficientes. Serei eu que sou exigente? Ou apenas quero uma rede que me ampare numa qualquer queda, numa tentativa de o vencer?

Se algum dia descobrir, prometo que te digo...

Beijo

I.