28 novembro 2006


Cartas soltas de sentimentos com estórias e de estórias com sentimentos,

Olá, como vais? Eu vou bem. Como sempre. Sabes, sinto falta de ouvir um riso. Não um riso qualquer. Aquele riso que me fez deambular pela vida e enforcar a ilusão, esse já não faz parte dos meus sonhos actuais, actualizados e constantes. Sinto falta de um riso presente na minha vida, assim como sinto falta de uns braços que me embalem nas noites de maior solidão. E também nas de maior partilha. E, depois de uns dias reconfortantes e distantes de toda a convulsão citadina e permanente da minha vida, cheguei à conclusão que embora definitivamente saiba sobreviver sozinha, é tão melhor quando temos com quem dividir. Dividir o fresco lavado dos lençóis. O quente da água que jorra do chuveiro solitário apenas para mim. A perna, abandonada, debaixo da mesa. A mão largada sobre o sofá enquanto ouve a música após o jantar faustoso. A boca sedenta que não tem a quem beijar e dividir os carinhos que a faz esbelta. Estes dias de solidão acompanhada, foram os dias em que me senti a alma a liquidificar-se. E aí, tenho de admitir, por mais que tenha aprendido que sei sobreviver sozinha, e que não morrerei de forma nenhuma, e, ainda alguma, por não amar desalmadamente sempre, e, todos os dias, aprendi que não ter com quem partilhar a minha alma, assim, líquida, de novo, assim, tão perto dos olhos, inunda-me de uma tristeza profunda, também. Menos penosa. Mas enorme. Tão grande como o mar que te leva a outro continente. Entender os sentimentos é sempre uma estrada de muitos atalhos. Cada um entende da maneira que pode, consegue e sente. E nunca é da mesma medida exacta e conforme. Tenho a certeza. Mas não absoluta. Aliás, nunca vejo as coisas da mesma forma que os outros, nunca, ou muito, muito, muito raramente. É por isso que preciso que um dia expliques o teu sentimento. Para to ver com os meus olhos fingindo serem os teus. Se te embaraças e nesse acto perdes a fala, podes engolir palavras e perdê-las aí dentro, ideais e tão necessárias. E, se tiveres tanto para dizer, que seriam suficientes para eu aconchegar o coração bem pertinho delas? E não aprendas a fazer melhor. Melhor seria sim um sinónimo verdadeiro de te perder nas letras por entre as linhas. A responsabilidade é manteres-te igual. E ainda assim não disse tudo. Mas também não interessa dizer mais. Apenas que gosto. Amei e amo sempre as palavras. E que amo os sentimentos que eram para ser estória. Sem responsabilidades. Apenas com sentimentos.

27.11.2006

2 comentários:

João Carlos Carranca disse...

Gostei mesmo

algevo disse...

Jota:

esta minha carta aberta era dirigida aos meus fantasmas, mas também a algumas pessoas, aquelas que me confundem com os meus fantasmas ainda. Onde tu não estás incluido, como é óbvio, mas de certa forma também era dirigida a ti. Porque foi numa explicação do amar lendo ser ou não sinónimo de amar compreendendo que esta carta começou.
E a alma começou a transmutação do estado sólido para o líquido quando li o sentimento que era para ser uma estória. Depois foi deixar seguir o curso normal da água. E agora é esperar, que o frio não ame altere de novo a alma.


Beijos.

I.