06 janeiro 2007


A morte vem lentamente interpor-se entre nós. E as palavras que nunca dissemos começam a escassear na boca de cada um de nós. E os gestos de carinho que nunca tivemos um para o outro começam a fugir-nos dos nós dos dedos por não reconhecerem na outra pessoa o fonte de carinho a que está habituado. Mas agora que a morte se começa a interpor entre nós estranho pequenos gestos que até aqui não te tinha conhecido ou apenas não te tinha reparado. E agora que a morte te começa a tirar o fôlego, tira-me a mim quem nunca tive. Na realidade não me tira ninguém que eu não soubesse já fora da minha vida. Mas atormenta-me saber-te já fora dela quando nunca entraste nela, sequer, quanto mais profundamente. É como se a morte, que agora se começa a interpor entre nós, e as palavras e os gestos que nunca dissemos ou fizemos agora diminuíssem a distancia entre as mãos um do outro até restar apenas um vidro que foi perdendo a espessura, a cor e quase que te sinto através dele. Mas tantos anos de afastamento, de sorrisos mascarados, de dores transparentes mas sentidas, se desvanecem agora que a morte se começa a interpor entre nós?

28.12.2006

10 comentários:

joão marinheiro disse...

Não te preocupes. A morte é uma passagem...
Abraço deste lado enquanto me tento reencontrar.

algevo disse...

Querido João,
pode ser uma passagem, mas ela por vezes pode ser dolorosa, para todos os envolvidos.

E esta está a ser.

Perdida num labirinto.

I.

Salvador disse...

Não sei o q dizer,

Força amiga...

João Carlos Carranca disse...

Morte? palavra demasiado definitiva.

joão marinheiro disse...

Quando voltares eu estou aqui para te dar o meu abraço. Um abraço grande e terno.
Beijo

algevo disse...

salvador,
nesta altura não existem palavras. Apenas gestos e imagens que se nos fixam nas pálpebras.

Beijo.

I.

algevo disse...

jota,

meu querido e doce jota, a morte é mesmo definitiva. e voltei a saber como é ela de perto. agora é recomeçar sem olhar para trás, sem arrependimentos do que não foi dito ou feito.

É por ai que ela é ainda mais definitiva.

Beijos e beijos.

I.

algevo disse...

kika, minha linda... a força, por muito que fosse, não é nunca suficiente porque, de todo, é um ritual que detesto e que não suporto mas ao qual estive de estar presente para me poder esconder nas costas largas do mano.

Nalguns momentos foi demasiado dramático. Noutros simplesmente não estive ali. Ainda não estou em mim.

Mas a imagem não se me descola do olhar. E é essa, a última que me permanecerá sempre. Com o tempo amaina, esbate e atenua.

Beijos.

I.

algevo disse...

joão,

nalguns momentos não poderiam exisitir braços suficientemente grandes para me afastar da dor das palavras que não se dizem, das mágoas que não se esquecem, dos gestosd que não se fazem. Dos vazios que permanecem sempre. Do que não se sabe. E do que se sabe que não é bem assim.

Mas o abraço terno e grande é sempre bem vindo.

Beijos daqui de onde o rio se junta com o oceano.

I.

algevo disse...

kika,

regresso. Mais sentida. Mais magoada. Mais qualquer coisa. e com menos qualquer coisa que a esta altura ainda não defini bem. Gerir todos os sentimentos que se sente e que se constroem a partir dali é estranho. Mas regresso.
Agora é como nos AA, um dia de cada vez, um recomeçar todos os dias até tudo ficar quase esquecido.

Mas ainda não parece bem real.
Como se esta noite me fosse deitar e amanhã não tivesse passado de um pesadelo que durou alguns dias.

Beijos do cantinho à beira mar.

I