27 outubro 2006


Depois de tanto mal, depois de tanta dor que me causaste, depois de tanta raiva que te sinto todos os dias, interrogo-me porque ainda assim continuo a amar-te. Não é amor. Não é. É apenas uma grande paixão. Uma paixão avassaladora que não me deixa respirar, nem continuar a viver a vida. Que não me deixa olhar mais além. Que me está a obrigar a parar, a deixar de olhar para o céu. Eu quero-te. Vou-te querer sempre. Mas é apenas uma paixão. Tudo vai passar. E daqui a alguns anos vou-me rir das noites mal dormidas, das insónias permanentes a pensar em ti. Foste como uma droga na minha vida. Um vicio. Uma profunda adição. Eu consumi-te diariamente. Completamente dependente. E agora que não te tenho, fico aqui, a tremer, num profundo delirium tremens, a ter alucinações permanentes de que me estás a abraçar ainda. E que ainda fazes amor comigo pela noite dentro. Esta ressaca que não me abandona, este profundo abandono de mim, esperando que um dia regresses ao meu corpo. A qualquer coisa que te agrade ainda em mim. Destruo-me. Mas ainda assim tu não me vês. Não dás por mim. Odeio-te. Odeio-te. Tu não me vês. Tu não vês que estou a sofrer. Tu não queres saber. Mesmo que visses tu não quererias saber. Tu não me vês. Mas ambos sabíamos que isto acabaria por acontecer. Mas preferi percorrer toda a espiral de loucura. Até ao fim. E agora faço o quê?

16.10.2006

2 comentários:

João Carlos Carranca disse...

E agora faço o quê? perguntas tu. Pois é. Eu me costumo perguntar no meu português angolonizado: vou fazer mais como? Normalmente viro a página e começo outro livro. A vida é cheia de livros. A gente lhes muda quando acaba ou quando não gosta. Mas todos os livros da vida são bons, mesmo aqueles que no momento nos parecem 'chatos', um dia, a gente lhes recorda e até lhes sente saudade.
Falei.

algevo disse...

jotacê: é por lhes saber da saudade que me custa po-los de uma vez na prateleira. mas acabo por ter o colo cheio de livros, muitos inacabados, muitos com a ultima página em suspenso. todos os que me pareceram chatos deitei fora ou guardei fora do baú da alma, na prateleira da minha vida.

Dizer que me sinto demasiado jovem para tantos recomeços, parecerá mau??

I.