17 dezembro 2006


Já não estou aqui junto de ti. Já não sou a menina que conquistaste para possuíres por dentro dos teus braços e nos teus lençóis. Agora sou a menina, já quase mulher, que se julga ainda menina. Mas já não me quero por entre os teus braços. E muito menos por entre os teus lençóis. A distância que nos separa, mesmo lado a lado é tanta e tão grande que me faz faltar o ar para te tocar. E nem o quero fazer. Parece que estou ali ao teu lado como o céu parece tocar no mar lá ao fundo no horizonte. Mas a distância entre ambos é tão grande lá como entre nós. Só parece. Não é. Já não te conheço. Já não te tenho tal como tu não me tens. Nem estou aqui presente, de coração e alma. Apenas o meu corpo inanimado. Solto e desfalecido. O meu olhar pára apenas num qualquer ponto no céu a vogar numa nuvem ou numa estrela que me leva à ilusão. Que não és tu. Mas quem me faz doer ainda o estômago? Quem me faz ainda tremer as pernas? Já não me recordo de o fazeres. Em ti apenas sinto uma enorme tristeza por partilhar e por dar aquilo que não soubeste acarinhar. O meu corpo está desfalecido. Morto para ti. Só frio. E nos nossos mundos uma distancia tão demasiado grande e dispare. Não me consegues tocar É verdade. Nem quero que o faças. Já não me tens. Já não me magoas, sequer. Quebrou-se-me o céu da boca pelas palavras que não disse. Mas o pior é estar a quebrar-me o céu do coração por não ter com quem o partilhar. Não consigo chegar a ti. Não a ti, que estás ao meu lado. A ti que estás no céu do meu coração. No mar que o inunda. Na solidão que te permanece. É a ti que quero chegar. É a ti que quero dar a mão. Agora esta noite. Enquanto a chuva bate na janela do meu quarto solitário e vazio de ti e cheio de nada de mim.

7.12.2006

6 comentários:

Polo disse...

Depois de ler um texto como este... palavras para quê?...
apenas o desejo que consiga encontrar a felicidade que procura.
Um abraço.

joão marinheiro disse...

Trago-te uma carta que fala de amor. Uma carta que gosto de reler tempos a tempos.... Gosto de escrever cartas tambem, mas esta é especial, espero que gostes tanto como eu gosto.
Abraço daqui onde o oceano se enfurece...
E diz assim:

AMORES MORREM…

Todos os dias morre um amor. Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos.
Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo. Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios.

Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos. Morre da mais completa e letal inanição.

Todos os dias morre um amor. Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro. Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa. E esta é a lição: amores morrem.

Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio insuportável depois de uma discussão: todo crime deixa evidências.

Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, como o Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho papão. Outros confessam sua culpa em altos brados e fazem de pinico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso. Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda, com nomes paradoxais como "O Amor Inteligente" ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo "A Paixão Tem Olhos Azuis", difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.

Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.

Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos e definharão até se tornarem laranjas chupadas.

Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso daquela ruivinha da 4a. série ou entre fãs que até hoje suspiram em frente a um pôster do Elvis Presley (e pior, da fase havaiana). Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor (Bah, isso não é amor. Amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).

Existem, por fim, os AMORES-FÊNIX. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, dos preconceitos da sociedade, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da mesa-redonda no final de domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro, das toalhas molhadas sobre a cama e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram: teimosos, belos, cegos e intensos. Mas estes são raríssimos e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas. E é esse amor que eu quero viver com você, PARA SEMPRE!!

Carta do Pedro para a Raquel Brasil 04.09.05

algevo disse...

Polo, a felicidade que todos procuramos e muito poucos encontramos (ou julgamos ter encontrado).

Mas alguns encontram.

Beijo

I.

algevo disse...

João, não me atrevo a reler a tua carta nesta manhã ainda molhada pelo orvalho da madrugada. Não tenho a coragem. Não quero acrescentar mais lágrimas ao teu ocean. Mas, fiquei com a certeza que entendeste toda a extensão do meu sentir (e querer ouvir).

Ainda tenho esperança.

Quase, quase intacta.

Beijo daqui de onde o rio se junta com o oceano.

I.

mario leal disse...

olá, parbens pelo texto bonito que escreveu, é bonito e com muito conteudo,parabens, e que a felicidade lhe sorria sempre,um santo natal.

algevo disse...

tadi, obrigada pela visita. É sempre bom quando os amigos "virtuais" continuam a regressar.

Feliz Natal.

Beijos.

I.