30 dezembro 2006


Levo o tempo a prometer que não te voltarei a ligar. Mas volto sempre. Como é claro, sempre que te ligo não te pergunto o que quero saber, nem te forço a dizer o que não quero ouvir. Mas hoje enchi-me de coragem e por isso aqui estou eu. Como é óbvio não te convido para irmos tomar um café. Para mim seria um chá, mas não o faço. Telefonei-te, só e apenas, pois sei bem das minhas limitações e jamais poderia partilhar do mesmo espaço que tu. Sei bem como esse teu sorriso charmoso sempre me desarmou em todas as situações, por mais decidida que eu esteja em te resistir e em te exterminar da minha alma e na minha vida. Falas-me, invariavelmente, nos teus sonhos quebrados, nos teus voos picados terminados abruptamente, mas hoje é sobre mim que falaremos. Quero que me digas, sem dúvidas, sem périplos, sem silêncios, de uma vez e só de uma assentada, o que eu fui para ti. Hoje alguém me disse que este era o Natal do seu abandono. Pois para que não seja também o meu, diz-me de uma vez por todas, e com todas as letras, sem os teus silêncios dúbios, o que eu fui na tua vida. Nem te tenho por perto para me encheres do teu olhar, desse teu azul que agora está mais claro, mais azul céu livre, e, de uma vez por todas corta-me as asas e enterra-me ou dá-mas de volta e deixa-me voar para longe sem ressentimentos, sem medos do que possa ter abandonado. Enches-me a alma de esperança quando me dizes que me recordas com carinho todos os minutos que partilhamos a pele. Que foram apenas minutos. Nada mais que isso. E quem sabe um dia a vida nos faz voltar a cruzar. Mas não me dizes nunca que foi também um amor. Eu sei que não fui. Tu sabes que não fui. Dizes-me que nunca me mentiste. Nunca a tua boca proferiu uma mentira para mim. Isso não me serve de consolo, digo-te eu, em tantas alturas preferia-me sentir enganada, com palavras de amor, sentimentos que me afundassem, sabendo que me mentias, mas podendo fingir que era amada. Mas não. Sempre soube no fundo, não pela tua boca, apenas pela minha sensação, que era passageira. Talvez a vida nos faça cruzar, lá mais à frente, quando formos mais livres. Sabemos que a vida não nos voltará a cruzar. Sabemos ambos que as vezes que passamos ao lado um do outro foram propositadamente. Porque assim obriguei a vida, e tu a deixaste seguir-me por escassas vezes. Agora, ficamos apenas na lembrança um do outro, dizes-me tu, e penso eu, que treta. Esqueceste-me. Dizes que não. Que me trazes guardada no teu coração como a única mulher que te traz apenas boas recordações. No silêncio sentes as minhas lágrimas a cair. E eu sinto que vais fugir. Nunca consegui tocar nesse ponto tão teu. Era apenas aí que eu me precisava de me saber, no passado, pelo menos uma vez. Que te marquei. Que te fui importante. Sentir. Não apenas saber. Palavras vãs. De pena? Não, afirmas tu. Vou fazer de conta que creio em ti de coração. Mas ambos sabemos que não. A vida fez-me desconfiada. E não creio nas pessoas e nos sentimentos que nutrem por mim. Não me vejo valorosa o suficiente para me amarem. Mas apenas tu e eu o sabemos. Poucos partilham do meu sorriso fácil e da minha verdade. Agora despeço-me. Quase na mesma. Com a mesma, quase, sensação de vazio, de necessitar de fumar um cigarro urgentemente, depois de não te poder sorver o ar, o cheiro e a vida. Precisava apenas de dar uma passa num cigarro de uma marca qualquer desde que forte e acender-me a alma como farol para que alguém me encontre aqui magoada por entre este mar calmo, mas tão demasiado escuro. Não me valeu de quase nada. Não me esclareceste. Tu nunca me esclareces. Tu nunca te dás. Mas pronto. Já tenho mais um motivo para chorar. Mas vou sorrir para que não me sintas triste. Só por dentro sabemos ambos que choro. No mar. Adeus. Esperamos que a vida nos faça cruzar?

22.12.2006

8 comentários:

AnaP disse...

É tão bonito o que escreves... Venho apenas desejar-te um Ano de 2007 cheio de coisas boas, muitos sorrisos e poucas lágrimas. Um beijinho muito grande, querida I.

pEqUEnOtE disse...

Feliz ano novo!!!!!!
Tudo de Bom!!!!

João Carlos Carranca disse...

Feliz 2007
Nunca sabemos quando as linhas paralelas se cruzam, quando as circunferencias se achatam nos polos, quando os olhares se cruzam noutra forma de ver.
Nunca direi nunca porém nunca saberei quando nunca verterei mais uma lágrima.
Prefiro ver o borboletar de uma borboleta do que desistir de ver.

Luís disse...

Abandono não... Esta época tem que ser de coragem. Com o novo ano tudo se inicia. Um novo parto... coragem!

algevo disse...

anap, minha querida e doce menina (pois é assim que te vejo), que este ano nos sorria. Muito. E que as nuvens tragam apenas lágrimas de alegria para a terra.
Um Feliz 2007 para ti!

Beijos...

I.

algevo disse...

pequenote, também um execelente 2007 para ti.

I.

algevo disse...

jota, meu jota lindo...

a minha linda paralela anda só à demasiado tempo. E a circunferencia demasiado alta para se achatar em qualquer polo.

Vejo-te sempre a ti.

Beijos e mais beijos.

I.

algevo disse...

Luís, o ano novo para mim é sempre um matar do ano velho. Um recomeço, um parto, como dizes, mas os partos, na grande maioria são dolorosos. E para se ver a luz definitvamente terei que renascer. Mas depois de tantas vezes o fazer, começo a ficar cansada. E não é lá grande estado de espirito para recomeçar.

Mas procuro a coragem.

Um beijo.

I.