01 dezembro 2006


Não é a solidão que me faz mal, sabes. É não ter a resposta do teclado do computador. É não ter alguém do outro lado da linha do telemóvel que não me responde. É não ter alguém que se forma em resposta no papel que sempre me acompanha e onde te escrevo todos os dias os contornos da vida. Isso é a solidão. Mas a solidão que tenho apenas por não dividir algo que me assombra e que me cava o peito por dentro, e, por fora, nos olhos me marca a tristeza do olhar. Continuo a ser a pessoa risonha, mas tantas vezes duvido do próprio som que sai da minha boca para os ouvidos à minha volta. Sei que algures no mundo está alguém, tem de existir, que me consegue entender no mais vasto sentido. E são esses os braços que finjo existirem em mim, no meu corpo antes de dormir. São as distâncias entre o teu ombro à tua boca, ou apenas do teu antebraço ao teu dedo indicador. A distancia que vai, exacta da tua maçã de Adão à tua língua. Perfeita. Quente e saborosa. É o tamanho perfeito do teu pé que se enrola no meu durante a noite, quando me vens buscar no sono para me velares os pesadelos dos sons que ainda me perseguem. Porque tu entendes. Não preciso falar. Compreendes em sintonia os sons que não chego a proferir porque sentes igual a mim. Porque o teu coração não é de pedra mas aparenta. Porque a tua boca fala fechada, com sons que querem dizer outra coisa. Mas tu entendes porque és igual a mim. Ou parecido. E por isso sentes-me feliz, infeliz, contente e estagnada. Apenas. Tu. Porque estás no meu corpo mesmo antes dos teus olhares poisarem nos meus.

28.11.2006

2 comentários:

joão marinheiro disse...

Hoje estou um pouco assim, tão cheio de nadas...

algevo disse...

Não penses assim... hoje é um dia, mais vazio, é certo, para quase todos, mas tens sempre motivos para te encheres de tudos...

além disso, tu que és um marinheiro que gosta de tudo em grande... vá olha o mar de frente, e deixa-o encher-te de vastidão, de som e de grandeza.

Esvazia-te dos nadas e enche-te... de mar.

Abraço aqui deste lado do mar.

I.