06 agosto 2006


Uma carta a um amor desenganado e desconhecido, que nunca, e ainda, se deu a conhecer…

Leva-me pela mão nesta noite cheia de estrelas e de luas quase cheias.
Acende um incenso e faz amor comigo à luz de velas.
Desenha o teu desejo no meu corpo, e deixa-me mostrar-te os caminhos onde me tens no paraíso.
Depois senta-te comigo, de calças arregaçadas, com os pés dentro de água.
Porque o teu sorriso sabe-me a mar. Sempre me soube a mar, desde o primeiro dia em que ainda não te vi.
Apenas te imaginei.
Sem sons. Sem palavras.
Porque as palavras são ditas pelos nossos silêncios.
E elas levam-nos aos melhores locais para nos termos.
E nos nossos silêncios as palavras que não são ditas dizem-nos tudo. E lá no cume do nosso silêncio, os nossos olhares fazem acreditar, mais uma vez, que ainda é possível.
Que duas almas ainda se podem escrever uma na outra.
E vamos deixar… deixar que os nossos silêncios divaguem pelos paraísos perdidos dos nossos sonhos, e aí, ao pôr-do-sol, voltaremos a acreditar.
Porque tu és como uma carta de um velho amor… à deriva num mar que sempre, tempos a tempos, desagua na minha praia.
Reconhecendo como quase sua cada um dos meus grãos de areia que envolves na tua humidade permanente e possante. Todas as gotas de água que eu conheço e quase me parecem minhas.
Também.
Já nos conhecemos os silêncios.
Mas nunca fomos um do outro.
Õ que nos liga é a estranha sensação que já foste meu e que já me tomaste como tua, e correndo a vida o que correr, dando o relógio as 24 voltas para que cada dia passe, seja dia ou seja noite, do outro lado do planeta… voltarás a ser meu.
E voltarás a tomar-me como tua.

5.08.2006

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