15 agosto 2006


Os dias passam. As noites sucedem-se.
As semanas. Os meses. Os anos.
Mas não te esqueço, de alguma forma.
És como uma árvore secular de raízes profundas que não me deixa morrer.
E nem sempre.
Mas de quando em vez vens e recordas-me a falta que me fazes.
De vez em quando.
E olho e vejo bem a falta que me fazes em mim.
De vez em quando.
Apenas nos dias em que o sol brilha mais.
Apenas nos dias em que chove, ou que faz frio.
Apenas nos dias de nevoeiro.
Apenas em quase todos os dias.
E é por isso que te invento.
Nesses dias faço de conta que vais ao meu lado no carro. Que conduzes, mas que me dás a mão como sabes que gosto.
Levantas a perna e deixas-me por a palma da minha mão por baixo dela e avaliar-te o peso.
E invento-te nos dias em que me deito no sofá e faço de conta que lá estás comigo a partilhar o mesmo espaço, por baixo do mesmo edredão. De mãos dadas.
Sinto sempre a tua mão.
E confesso-te sempre em todos os meus monólogos a falta que te sinto.
E também te invento de manhã. Na cama, ainda, quando faço de conta que a tua presença é palpável na cama à distancia do meu braço dobrado, ao meu lado e sinto até o teu calor no lençol que partilhámos em mais uma noite de sonho.
E por vezes já não distingo bem o que inventei do que foi na realidade.
E já não sei se ensinaste a distinguir a estrela polar das outras ou se apenas o inventei.
Já não sei se me ensinaste a ver o prumo do horizonte e o azimute...
Ou se apenas o imaginei.
Mas o tempo não passa, e o tempo não amaina o que te sinto.
E não diminui, quase todos os dias o que sinto, e as palavras são escassas para traduzir o que não confesso a ninguém…
Que ainda te amo.
O teu silêncio tornou-se demasiado pesado, ensurdecedor até.
Magoa-me.
Mas não posso fazer nada mais.
Mas quem sabe, um dia, quando andares pela praia, que um dia foi a nossa, e estiveres com os pés enterrados na areia, a sonhar, olhando para um céu azul – a oferecer-te um sol a nascer – ou para um céu negro – a prometer uma noite de amor – quem sabe me recordes, e apanhes uma garrafa a navegar naquelas que foram as nossas águas e me leias ainda.
E o teu coração, encouraçado de betão, se te enterneça, ainda, mais uma vez, com as minhas palavras, que nunca te chegaram e me recordes ainda nos mais ínfimos pormenores.
Quem sabe nessa garrafa ainda te leve a cor do meu batom preferido, o cheiro do meu aroma predilecto.
E quem sabe, se diante do mar e do sol feches os olhos e recordes ainda mais uma vez o meu olhar, perene perante ti, o meu sorrir, em lábios que te dedicam o sorriso quase todos os dias.
Agora imagino-te a abraçar-me e abraço-te do mesmo modo que amava que o fizesses naqueles tempos de entrega, minha, a ti.
E imagino que te espero na cama, mais esta noite.
Tua, sempre tua.

13.08.2006

2 comentários:

Anónimo disse...

Todos, mesmo todos, incluindo aqueles que não o admitem, aguardamos por algo. Por alguma coisa maior que nós, superior às nossas forças,e é aí que pretendemos ir buscar a energia para viver. Mas por vezes na espera de algo especial na vida, deixamos passar outras igualmente especiais.

algevo disse...

Mas se não as vemos é porque elas não estavam destinadas a ser vividas. ´
É nisto que eu acredito.
Se tivermos que as viver, boas ou más, elas vão surgir na nossa vida.
Inexoravelmente.